“Cumplicidades”

“Um Sonho” © Carolina Lecoq

Quando, em Abril de 2012, realizámos a primeira co-produção entre o Cendrev e A Escola da Noite – “O Abajur Lilás”, essa vontade foi já o resultado de diferentes aproximações que vinham acontecendo entre as duas companhias.

Na segunda co-produção, trabalhámos o texto “Embarcação do Inferno” de Gil Vicente, no ano em que se celebraram os quinhentos anos da primeira apresentação deste texto maior da dramaturgia vicentina. Estreado em Évora em 2016, conta até à data com 226 sessões e cerca de 24.000 espectadores. Para além da circulação do espectáculo em diversos teatros das principais cidades do país, realizaram-se também acções de formação para professores e um conjunto de conferências sobre o texto e a obra do nosso grande Vicente, proferidas pelo professor José Cardoso Bernardes. Esse projecto é naturalmente um momento de especial significado no trabalho destas companhias que, desde muito cedo, se dedicaram com regularidade à obra vicentina, realizando edições, exposições, e a montagem de muitos dos seus textos.

Temos sustentado que os processos de trabalho em co-produção são sempre momentos que contribuem activamente para o crescimento de cada companhia envolvida. Claro que temos co-produzido espectáculos com outras estruturas nacionais e internacionais com resultados muito bons. Mas no caso deste “Um Sonho”, a viagem tem outros sabores porque com A Escola da Noite temos convergido em muitos momentos dos nossos percursos na realização de espectáculos, mas também em muitos outros aspectos da vida do nosso teatro.

Os projectos artísticos das duas companhias são indissociáveis das cidades que escolheram para se instalar. Também graças a elas e ao trabalho que têm desenvolvido, é hoje mais difícil imaginar uma cidade média sem estruturas de criação artística que estreiem regularmente espectáculos, que formem novos públicos, que estabeleçam pontes com as comunidades escolares e universitárias, que apoiem e acolham projectos de novos criadores, que façam parcerias e intercâmbios com outros artistas e companhias, que organizem festivais e dinamizem programações, que justifiquem a sua permanência nos teatros e assegurem o seu funcionamento diário.

O Cendrev e A Escola da Noite têm desta forma ajudado a concretizar a democracia, nas suas cidades e no país. Com o seu trabalho, estas duas companhias e os restantes grupos que prestam serviço público em Portugal têm contribuído para tornar realmente adquirido um direito que só em 1975 ficou formalmente consagrado – o direito de todos os cidadãos à criação e à fruição artística.

CENDREV

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