CABARET VIAN – Recital
No ano em que comemora o seu trigésimo aniversário, A Escola da Noite rodeia-se de amigos e oferece uma festa em formato de cabaret. No palco transformado do Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, uma banda musical de luxo e os actores da casa dão voz às palavras de Boris Vian, autor que inspira a companhia desde os tempos em que esta era apenas um sonho daqueles que viriam a fundá-la, em 1992.
Cabaret Vian, a nova criação d’A Escola da Noite, estreia na sexta-feira, 9 de Dezembro, e tem apenas três apresentações, até domingo. Os bilhetes já estão à venda.
No âmbito das comemorações dos 30 anos d’A Escola da Noite, que decorrem entre Março de 2022 e Março de 2023, chegou a hora da festa. Sob a direcção musical de Jorri e Luís Pedro Madeira, parceiros musicais da companhia em vários momentos inesquecíveis, um grupo de músicos da cidade (Gonçalo Parreirão, Ismael Silva, João Mortágua, Raquel Ralha e Vânia Couto) transforma-se na banda residente do Cabaret Vian, que é inaugurado esta sexta-feira, dia 9 de Dezembro, em pleno palco do TCSB.
No palco e entre as mesas, esta luxuosa equipa junta-se ao elenco permanente d’A Escola da Noite (Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash) para interpretar uma selecção de canções e poemas do escritor francês Boris Vian (1920-1959). O guião e direcção cénica são de António Augusto Barros, co-fundador e director artístico d’A Escola da Noite, que, ainda no TEUC, nos anos 80 do século XX, escreveu e co-encenou o espectáculo “Borisvilândia”, a partir do mesmo autor.
Repartido em três “sets” como num clube de jazz, o alinhamento inclui alguns dos mais célebres poemas e canções de Vian e fragmentos dos romances “A espuma dos dias” e “O arranca corações” e do conto “As formigas”. A escolha proporciona uma visão abrangente das principais linhas que caracterizam a obra do escritor, nos temas e na forma: o amor, o humor (muitas vezes negro ou sarcástico), a ironia, o lugar da arte, o gosto pela liberdade (a começar pela liberdade de criação e de invenção de palavras, seres vivos e artefactos), o exercício da insubmissão, o inconformismo, a denúncia do capitalismo e – sempre – a recusa do militarismo. Como consequência inevitável, e a todo o tempo, Vian propõe reflexões e expõe perplexidades em torno da relação do indivíduo com a comunidade e com as normas e estruturas sociais que em nome desta são criadas e impostas.
TEATRO | MÚSICA (ESTREIA)
Cabaret Vian – Recital
A ESCOLA DA NOITE
9 a 11 de Dezembro de 2022
sexta e sábado, 21h30
domingo, 18h00
M/14 > 120 min. > 5 a 10 Euros
textos Boris Vian
guião e direcção cénica António Augusto Barros
direcção musical Jorri e Luís Pedro Madeira
figurinos e adereços Ana Rosa Assunção
interpretação Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães, Ricardo Kalash
músicos/as Gonçalo Parreirão (guitarra, baixo, sintetizador e trompete), Ismael Silva(marimba, vibrafone e percussão), João Mortágua (saxofone), Jorri (auto-harp, contra-baixo, harmonium, percussão, toy piano), Luís Pedro Madeira (teclados e banjo), Raquel Ralha (voz), Vânia Couto (voz)
luz Danilo Pinto e Diogo Lobo som Zé Diogo vídeo Eduardo Pinto cabelos Carlos Gago
informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
bilheteira online
BORIS VIAN
Boris Vian nasceu em França, em 1920. O pai trabalhava num laboratório homeopático e a mãe, Yvonne Ravenez, era pianista amadora. Foi o segundo de quatro filhos. Aos 12 anos, foi vítima de um reumatismo articular agudo que lhe provocou uma insuficiência na aorta. Esta ameaça sempre presente de uma morte precoce levou a que a mãe o rodeasse de cuidados excessivos, situação que transpôs para personagens de “O arranca corações”.
Estudou em Paris (Filosofia – opção de Matemáticas) e trabalhou como engenheiro na Associação Francesa de Normalização, de 1942 a 1946, enquanto escrevia poemas e compunha música jazz. Frequentou os cafés Flore e Les deux magots, em Saint-Germain-des-Prés, onde se cruzou com Sartre, Raymond Queneau, Simone de Beauvoir, Juliette Gréco e Miles Davis.
Entre 1946 e 1959 escreveu 11 romances, quatro livros de poesia, contos, várias peças de teatro, crónicas musicais na revista Jazz Hot, argumentos de filmes e centenas de canções. Alguns dos seus livros causaram controvérsia ou escândalo, chegando a ser condenado por ultraje aos bons costumes.
Assinou com o pseudónimo Vernon Sullivan os seus romances negros e sarcásticos, como “Irei cuspir-vos nos túmulos”, “Les morts ont tous la même peau”, “Morte aos feios” e “Elas não percebem nada”. Com o seu nome escreveu os que são hoje considerados os seus principais romances: “A espuma dos dias”, “O outono em Pequim”, “O arranca corações” e “A erva vermelha”.
Entre as 461 canções que escreveu está “O desertor”, com uma letra antimilitarista composta entre o final da Guerra da Indochina e o início da Guerra da Argélia, que o levou a ser perseguido pela extrema-direita.
Apaixonado pelo jazz, tocava trompete no Tabou, um clube de Saint-Germain-des-Près. Colaborou com o Colégio de Patafísica. Foi actor em teatro e cinema. Morreu em 1959, vítima de um ataque cardíaco.
A obra de Boris Vian tornou-se mais conhecida nos anos 60 e 70 do século XX. É hoje considerado um clássico e entrou, sem grande controvérsia, na Biblioteca da Pléiade em 2010.