Arraianos | SARABELA TEATRO
“Arraianos” é uma das obras fundamentais da literatura galega, um conjunto de relatos perturbantes, que conduzem o leitor por mundos em que circulam o erotismo, o mistério, a miséria, a consciência, e a grandeza da alma e da vida. Venceu o Prémio da Crítica Galega, o Prémio da Crítica Espanhola e o Prémio Lousada Diéguez, em 1992. A prosa de Ferrín é envolvente, poética, musical e vigorosa, capaz de nos transportar a qualquer momento ou universo e de fazer com que sejamos parte da história que pretende contar, seja ela qual for.
Em “Arraianos” encontramos histórias de bruxas, contrabando, caciquismo e agrarismo. Universos habitados por personagens misteriosas em diferentes tempos e momentos históricos. Imagens com tanta força que nos fazem sentir o ar gélido das serras, a atmosfera mágica, o inquietante silêncio. Que nos fazem sentir o medo dos habitantes possuídos pelo passado, pelas paixões, pelos traumas e pelo poder das superstições e dos mitos.
A Raia Seca da província de Ourense (zona fronteiriça com o norte de Portugal), local onde vivem estas personagens, é uma metáfora de mundos reais temperados pela ficção. A ideia de fronteira, de linha divisória, ponto de cisão e de união, lugar de encontro e separação. As personagens – os/as “arraianos/as” – são gente transgressora, estranha, solitária ou esquiva, às vezes com um temperamento férreo e sagaz.
A adaptação para este espectáculo parte dos contos “Medias azuis” e “Lobosandaus”. O primeiro relata a história de dois rapazes que vão cortejar duas irmãs gémeas, belas e saudáveis. Perante a impossibilidade do namoro, decidem maltratá-las: ou as usam para o seu prazer ou para fazer pouco delas. A relação assenta no gozo e no prazer sexual ou na burla, nunca na igualdade.
No segundo, as cartas de um jovem professor colocado na aldeia para o seu tio (Bispo na Catedral de Ourense) revelam uma trama de possessão, em que se conjugam o telúrico e o erótico, o mundo e o infra- mundo. Nos confins arraianos de Lobosandaus, a racionalidade deixa de ter lugar e o professor acaba dominado pelo duplo feitiço dos ares remotos e da formosa Dorinda.
TEATRO
Arraianos
SARABELA TEATRO
1 de Outubro de 2023
domingo, 16h00
> Teatro da Cerca de São Bernardo
> M/16 > 70 min > 5 a 10€
baseado na obra de X. L. Méndez Ferrín adaptação Fernando Dacosta e Ánxeles Cuña Bóveda encenação Ánxeles Cuña Bóveda elenco Fernando Dacosta, Fina Calleja, Elena Seijo, Sabela Gago, Fran Lareu, Fernando Gozález, Vadim Yukhnevich
desenho de luz e espaço cénico Baltasar Patiño figurinos Tegra V. Carpentier, Lele Álvarez e Sarabela Teatro maquilhagem e caracterização Sarabela dramaturgia de movimento Ruth Balbís espaço sonoro Renatta Codda Fons composição musical Vadim Yukhnevich fotografia Rubén Vilanova máscaras e imagens Iris Branco gravações em DVD Alva V. Carpentier construção de cenografia Amenosde7metros técnicos de luz e som José Bayon e Rubén Dobaño desenho gráfico José Lameiras produção e distribuição Fina Calleja e Carlos Domínguez
informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
SARABELA TEATRO
Sarabela Teatro é uma companhia sediada em Ourense, fundada em 1980 e com actividade profissional continuada desde 1990. Assume como objectivos “fazer um teatro bom, um teatro vivo, arriscado, contemporâneo, coerente, com rigor, auto-crítica, responsabilidade, resistência…”. Dirigida por Ánxeles Cuña Bóveda, foi distinguida com dezenas de prémios ao longo dos anos, entre os quais 44 Prémios María Casares, 6 Prémios Compostela, 5 Prémios FETEN, 1 Prémio Celestina, 1 Prémio Abrente do Festival de Ribadavia pela sua trajectória e 1 Prémio de Honra atribuído pelo Festival Primavera de Cine, em Vigo. Foi Prémio da Cultura Galega em 2016.
É responsável pela organização do FITO – Festival Internacional de Teatro de Ourense, pela MITEU – Mostra Internacional de Teatro Universitário e pela MOTI – Mostra de Teatro Infantil de Ourense.
A companhia mantém há muito relações de intercâmbio com A Escola da Noite. Ao longo dos últimos anos, tem vindo com regularidade a Coimbra, onde apresentou já “Así que pasen 5 anos” (2003), “Esmorga” (2009), “Rosalía, os cantares das musas” (2013) e “A idade da pavía” e “Pequenas Certezas” (2014).
XOSÉ LUÍS MÉNDEZ FERRÍN
Xosé Luís Méndez Ferrín (Ourense, 1938) é doutorado em Filologia. Foi professor catedrático de Literatura no Instituto Santa Irene de Vigo. Preparou a edição crítica do “Cancioneiro de Pero Meogo” (1966) e, como ensaísta, publicou “De Pondal a Novoneyra” (1984). Colabora no jornal no Faro de Vigo e dirige a revista “A Trabe de Ouro – Publicación Galega de Pensamento Crítico”. Foi membro do grupo literario nacionalista Brais Pinto.
Deu-se a conhecer como poeta com a obra “Voce na néboa” (1957), à qual se seguiram: “Antoloxía popular” (1972), assinada com o heterónimo de Heriberto Bens, “Sirventés pola destrucción de Occitania” (1975), “Con pólvora e magnolias” (1977, Premio da Crítica), “Poesía enteira de Heriberto Bens” (1980), “O fin dun canto” (1982), “Erótica” (1992), “Estirpe” (1994, Premio Losada Diéguez), “O outro” (2002), “Era na selva de Esm” (2004), “Contra Maquieiro” (2005, Prémio Losada Diéguez).
No campo da narrativa, publicou “Percival e outras historias” (1958), “O crepúsculo e as formigas” (1961), “Arrabaldo do norte” (1964), “Retorno a Tagen Ata” (1971), “Elipsis e outras sombras” (1974), “Antón e os inocentes” (1976), “Crónica de nós” (1980), “Amor de Artur” (1982), “Arnoia, Arnoia” (1985), “Bretaña Esmeraldina” (1987, Premio da Crítica de Galicia), “Arraianos” (1991, Premio da Crítica de Galicia, Premio Losada Diéguez, Premio da Crítica Española) e “No ventre do silencio” (1999, Premio Eixo Atlántico).
Em 1999 foi proposto para o Premio Nobel de Literatura pela Associação de Escritores em Língua Galega. Em 2008 recebeu o primeiro Prémio Nacional da Cultura Galega de Literatura.
Com uma intensa actividade política até hoje, foi um dos fundadores do partido político União do Povo Galego, em 1964. Nos anos 60 e 70 do século XX foi acusado de propaganda ilegal e rebelião militar, tendo chegado a cumprir penas de prisão e sido obrigado a passar à clandestinidade em 1972.