Subir ao palco e olhar-vos nos olhos: uma aproximação ao percurso artístico do GRUPO CHÉVERE | com XESÚS RON

“Para nós, fazer teatro agora, da forma como o fazemos na nossa companhia, é simplesmente isto: subir ao palco e poder olhar-vos nos olhos. Parece simples, mas não é fácil. Falamos de coisas que são tão simples que acabam por ser difíceis de entender. O importante quando fazemos teatro é reconhecermo-nos como parte do que se está a passar aqui e agora. E não apenas como uma parte qualquer, mas sendo uma parte que nos ajuda a entender o que se passa. A nossa opção sempre foi escolher um lado e depois jogar com ele. E dar a cara. Nem sempre subimos ao palco só para vos olhar nos olhos, é verdade. Muitas vezes subimos ao palco tentando oferecer o nosso melhor perfil, mas acabamos sempre por mostrar a cara. E quanto mais mostramos a cara, mais vamos de cu. Por isso a certeza de que vamos fazer merda. De que estamos sempre a fazer merda.”
TEATRO | MASTERCLASS
Subir ao palco e poder olhar-vos nos olhos:
uma aproximação ao percurso artístico do GRUPO CHÉVERE
com XESÚS RON
23 de Outubro de 2025
quinta-feira, 11h00
> Sala Jorge Pais de Sousa da Cena Lusófona
> entrada gratuita
no âmbito da Mostra Galiza Coimbra 2025
co-org. Cena Lusófona
Informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / bilheteira@aescoladanoite.pt
Bilheteira online

XESÚS RON
Integra o Grupo Chévere em 1998, realizando trabalhos de criação de textos, interpretação, produção, gestão, dramaturgia, documentação, direcção artística e cénica. Alguns dos projectos em que participou são: Helen Keller, a muller marabilla? (2024), N.E.V.E.R.M.O.R.E. (2021), Dramawalker Vite (2021), Curva España (2019), Divinas Palabras Revolution (2018), Anatomía dunha serea (2018), Eroski Paraíso (2016), Goldi Libre (2016), As Fillas Bravas de Momán (2014), Eurozone (2013), Amores Prohibidos 2.0 (2012), Citizen (2010-2011), Testosterona (2009), Alá no fondo hai sitio abondo (2007), O Navegante (2001), hero.es (1999), A rutina é o deber de todas as criaturas (1998), Annus Horríbilis (1994), Máquina Total (1994), Big Bang (1992), Río Bravo (1990). Em 1992 participa na criação da Nave de Servizos Artísticos-Sala NASA, ficando encarregado da gestão e direcção artística até 2011. Fez parte do Colectivo Burla Negra e da Plataforma Nunca Máis, participando na criação e no desenvolvimento de projectos de agitação cultural. Em 2010 participa na criação da plataforma digital de conteúdos culturais Redenasa.tv. Dirige o programa de residência teatral de Chévere em Teo (2012-2019) e o laboratório de criação cénica A Berberecheira (2016-2020). Desde 2015 documenta, escreve e dirige inúmeras peças de ficção sonora em forma de passeios auto-guiados.

A COMPANHIA
Chévere é uma companhia de agitação teatral com 38 anos de trabalho nas costas, que soube manter com naturalidade uma proposta de criação própria tão irreverente quanto genuína. Em 2014 recebeu o Prémio Nacional de Teatro da Espanha pelo seu compromisso social e cultural e pela sua coerente trajectória de criação colectiva, transgressão de géneros e conexão crítica com a realidade.
Desde 1987, Chévere actuou em centenas de aldeias, vilas e cidades por toda a Galiza, Espanha, Portugal e noutros países europeus, latino-americanos e africanos. Realizou espectáculos de estilos e formatos muito diversos e trabalhou em espaços pouco convencionais: na rua, em barcos, aeroportos, tendas de circo, montras, rios, portos, rádios, bares, salas de aula… Usando o humor como filosofia e o pensamento crítico como ferramenta, as suas obras confrontam os debates do presente com a memória de um passado recente que ainda nos afecta, documentando-o com uma linguagem contemporânea acessível a públicos diversos. Exemplos desse modus operandi são obras como: Helen Keller, a muller marabilla? (2024), uma peça bilingue em língua gestual e língua oral; N.E.V.E.R.M.O.R.E. (2021), sobre a catástrofe ecológica do Prestige; Curva España (2019), que aborda o mito nacional espanhol como se fosse um verdadeiro crime ferroviário; Eroski Paraíso (2016), sobre os efeitos da globalização num pequeno lugar da costa galega; As Fillas Bravas (2015), uma reivindicação da cultura oral e da vida na aldeia; Ultranoite no País dos Ananos (2014), um ajuste de contas com a Galiza Única de Manuel Fraga; Eurozone (2013), sátira sobre a crise financeira de 2008 entendida como um assalto das elites; a trilogia Citizen (2010-2011), um filme biográfico não autorizado sobre Amancio Ortega e o “milagre Zara”; ou Testosterona (2009), uma obra não binária sobre as dissidências de género.
Chévere cria a Nave de Servizos Artísticos-Sala Nasa em 1992, um espaço cultural independente único, assumindo a direcção artística até ao seu encerramento no final de 2011, precipitado pela perseguição do PP local (Partido Popular). Ali manteve o seu quartel-general durante 20 anos, servindo de base para grande parte da produção cultural da cidade e para uma infinidade de projectos cénicos, grupos e autores que representaram a criação mais ousada desse período na Galiza, Portugal e Espanha.
A partir de 2005, Chévere diversifica o seu teatro de operações. Participa em projectos audiovisuais como Pepe O Inglés (série exibida na TVG, 2005–2006), Crebinsky, o filme (2008, longa-metragem), A Viaxe dos Chévere (2014, documentário) ou a versão cinematográfica de Eroski Paraíso (2018). Cria a redenasa.tv (2010), uma plataforma digital de conteúdos culturais em galego que também abriga o arquivo audiovisual da Sala Nasa. Executa projectos inovadores de criação na internet como Amores Proibidos 2.0 (2012), uma versão de Romeu e Julieta realizada com um grupo de adolescentes através das redes sociais. E transforma o seu teatro numa ferramenta de divulgação, sensibilização e comunicação transversal a muitos sectores da sociedade.
Entre 2012 e 2019, o Grupo Chévere desenvolveu um projecto de residência teatral no Concello de Teo (Corunha), um modelo experimental de relação público-privado, envolvendo-se com a comunidade local para dinamizar o uso dos espaços públicos, melhorar a estabilidade laboral dos profissionais do teatro e capitalizar o prestígio e o know-how de uma companhia como a Chévere em benefício da comunidade que a acolhe.
Em 2015, a companhia dá início à Berberecheira, uma iniciativa de custódia do território teatral para semear projectos cénicos de gestão colectiva que ultrapassam o núcleo estável da companhia. A primeira sementeira tem como objectivo ampliar a documentação cénica sobre conflitos sociais da história recente, contados na primeira pessoa, como prática de investigação em torno do teatro documental. Foram incubados três projectos: Goldi Libre (2016), de César Goldi, sobre o movimento de insubmissão ao serviço militar dos anos 80-90; Salvador (2017), de Borja Fernández, sobre o impacto da emigração numa família galega; Anatomía dunha Serea (2018), de Iria Pinheiro, sobre a violência obstétrica.
Desde 2015, a Chévere intensifica o seu trabalho de criação de ficções sonoras. A companhia investiga as possibilidades das narrativas espaciais, utilizando a comunicação sonora através de dispositivos digitais e auscultadores para realizar visitas e passeios ficcionados por bairros, vilas, centros históricos, edifícios singulares e espaços naturais — adaptados também a usos turísticos (audioguias ficcionados).
Desde 2023 integra nas suas obras a língua gestual e a audiodescrição, com o compromisso de tornar as artes cénicas mais acessíveis.
Desde 1993 e de forma ininterrupta até hoje, a Chévere cria e conduz as Ultranoites, um cabaré político que aborda com muita ironia os debates do presente.












