A Escola da Noite apresenta em ante-estreia, a 26 e a 27 de Julho, a sua nova produção. “TOMEO Historias Perversas” reúne mais de duas dezenas de textos breves do dramaturgo espanhol Javier Tomeo, autor de “Amado Monstro”, o espectáculo com que a companhia começou o seu percurso, há 25 anos.
Com dramaturgia, encenação e espaço cénico de António Augusto Barros, “TOMEO Histórias Perversas” inclui textos seleccionados a partir das obras “Histórias Mínimas”, “Cuentos perversos”, “Inéditos y Reescrituras”, “Los nuevos inquisidores”, “Problemas oculares” e “Bestiário”.
Definida como uma “literatura livre e audaz”, a escrita de Tomeo – muitas vezes a raiar o absurdo – é plena de humor, ironia e sátira mas também de poesia e humanismo. A perversidade, anunciada pelo próprio, e a aparente falta de compaixão com que trata as suas personagens desafiam-nos a pensar na forma como vivemos, como vivemos com o outro e como convivemos com um mundo que tantas vezes nos parece uma coisa demasiado estranha. A propósito dos “seres incompletos, incapazes de encaixar no mundo” que povoam os textos de Tomeo, escreve Daniel Gastón no prólogo de “Cuentos Completos”: “Com as suas parábolas sobre o medo irracional, a solidão e a incomunicação, Javier Tomeo faz com que a realidade se torne um pouco mais ameaçadora, mas também muito mais rica e fascinante. É o melhor serviço que um escritor pode prestar aos seus leitores”.
O mesmo Gastón identifica as oito “regras” que caracterizam a literatura de Tomeo, na qual têm sido detectadas influências de Kafka, de Buñuel, do surrealismo, mas também de Charlot, Buster Keaton e de Ramón Gómez de la Serna: “aceitar as regras do acaso e do absurdo; a força da sugestão e o fascínio pelo monstruoso; a animalização dos humanos e a humanização dos vegetais e dos animais; o fascínio pelos pormenores do mundo natural e a desconfiança em relação à tecnologia; a fantasia desbocada e a intuição arrepiante; a vivência traumática do amor e do sexo; a violência repentina; a importância do ‘ele’ e esse olhar a que Tomeo gosta de chamar psicopático”.
Gigantes, moinhos, assassinos e míopes
Entre os 26 textos escolhidos para o novo espectáculo d’A Escola da Noite, encontramos (muitos) míopes, pais que vêem gigantes onde filhos vêem moinhos, assassinos que saltam da tela de cinema, crianças que partem a lua em pedaços, esqueletos que falam, capitães que desertam, leões que choram e muitas outras coisas que nem sempre “saem à medida dos nossos desejos”.
A par do trabalho dos três actores da companhia que se desdobram em dezenas de personagens, sobressai nesta produção o elaborado dispositivo cénico. Possível apenas numa sala com as características do Teatro da Cerca de São Bernardo, é artesanal e sofisticado e realça os efeitos de surpresa, mistério e inquietação que os textos transmitem. A música original de Jorri (a Jigsaw), o vídeo de Eduardo Pinto e a iluminação de António Rebocho concorrem para o mesmo fim e garantem um espectáculo a que será difícil ficar indiferente.
Com a apresentação das duas ante-estreias, que terão entrada gratuita, a 26 e a 27 de Julho, A Escola da Noite encerra o período de trabalho iniciado há mais de três meses. Depois do regresso de férias e das últimas afinações, “TOMEO Histórias Perversas” terá a sua estreia e a sua temporada regular em Coimbra ao longo do mês de Setembro.
Javier Tomeo
Javier Tomeo (1992-2013) foi um dos autores mais originais e prolíficos da narrativa espanhola contemporânea. As suas obras foram traduzidas em quinze idiomas e várias foram adaptadas ao cinema ou representadas nos principais teatros europeus. A sua produção literária – com destaque para obras como “Amado Monstro” e “O Caçador de Leões” – foi distinguida com vários prémios, entre os quais o “Prémio Aragón a las Letras”, em 1994. Em 2012, toda a sua narrativa breve, incluindo as obras “Historias Mínimas” e “Cuentos Perversos”, foi reunida num só volume, pela editora Páginas de Espuma, sob o título “Cuentos Completos”. Morreu em Barcelona, em 2013, deixando dois livros por publicar: a novela “El hombre bicolor” e o seu último livro de micro-relatos “El fin de los dinosaurios”.
Em Portugal, estão publicados “Amado Monstro” (Cotovia, 1990) e “Histórias Mínimas” (Livros Horizonte, 1992).
TEATRO | ANTE-ESTREIAS
TOMEO Histórias Perversas
Coimbra, TCSB
26 e 27 de Julho de 2017
Quarta e quinta-feira, 21h30
textos Javier Tomeo tradução António Augusto Barros, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Sofia Lobo dramaturgia, encenação e espaço cénico António Augusto Barros figurinos, adereços e imagem gráfica Ana Rosa Assunção música Jorri vídeo Eduardo Pinto iluminação António Rebocho interpretação Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Sofia Lobo figuração e maquinaria de cena Ana Gonçalves e Sofia Coelho montagem e operação técnica Rui Valente e Zé Diogo
M/12 > 1h40 > entrada gratuita
informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt