Há talvez uns oito anos que o Abel nos entregou este texto. “Vejam o que vos parece”, diz ele sempre, meio humilde meio provocador, como quem sabe que dificilmente lhe resistimos.
Nós demorámos a responder. Muito. Por um lado, porque nos apetecia continuar a explorar o universo de “Além as estrelas são a nossa casa” até “Além do Infinito”, onde chegaríamos só em 2004. Por outro lado, porque este texto não merecia menos. Obra arrojada, complexa, de uma dimensão quase épica, atraiu-nos no imediato com a mesma força com que nos fez sentir o peso da responsabilidade. De tal forma que andámos vários anos a refrear o ímpeto, adiando de plano em plano a sua concretização.
Chegados à casa nova, não resistimos mais. Mesmo que nas traseiras não haja os tanques para a roupa com que sonhámos, queremos mesmo muito começar de novo a construir um novo jardim. Quase (fosse isso possível) como se nunca tivessem abatido o pessegueiro e tudo fossem cores e cheiros e sons de pássaros.
É nestas coisas pequeninas que se vêem as grandes, insiste Abel. E nós concordamos, artesãos a achar que o mundo pode só ser mais bonito e que das nossas mãos podem sair modelos que o confirmem. Guardamos para nós, enquanto artistas, o direito de nos comovermos com a beleza das coisas e o dever de com ela nos entusiasmarmos, de a perseguir, de tentar construí-la e partilhá-la, de ser as “mãos gentis sobre a paisagem” que o mesmo Abel reivindica no ensaio aqui publicado.
Assim fizemos com este Éden. Transpondo para o palco as interrogações poéticas, e por isso tão políticas, e por isso tão humanas, da escrita do Abel.
Trabalhamos, como ele, na procura. E no risco assumido de não dar respostas, na necessidade de não deixarmos de pensar e de ir tentando compreender o mundo.
Juntos na consciência de que é por esta via que o teatro pode, afinal, ter alguma importância.
A Escola da Noite, Julho de 2009.
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