danças que fervem*

 

© Arthur Elgort | "Jane Comfort, Deportment", 1991

© Arthur Elgort | "Jane Comfort, Deportment", 1991

Sexta Fábula

Um baile que morde.

Transpirar, chorar a quatro braços, gritar com as pernas, com as botas, com os olhos em bico, evaporar, fazer-se morto, encontrar o abismo do corpo do outro, ceder ao ritmo da fúria, ter o corpo em temperatura máxima

Enfurecer e calar a água com a voz e os dedos.

 

 

Fábula coreográfica para dançar (agora)

Era uma vez uma festa que começou muito bem. Raparigas e rapazes bem vestidos, todos alegres, muita música que convidava a dançar. Não se sabe porquês, um rapaz morde o braço de uma rapariga.

Um homem disfarçado de monge oriental entorta os olhos e grita tanto que o chão reage,levanta-se e dele nasce água, que faz os corpos escorregarem.

Uns caem, outro srezam, outros ainda tentam calar o monge e uma mulher-pássaro sobe a um ninho de ferro que, surgido como que por milagre, empurra com o seu grito e as suas pernas esta tragédia.

Todos começam a tentar fugir e a morder o ar que finalmente respiram, sem abismos.

Morda o seu próprio braço.

Entorte os olhos e grite muito, mas silenciosamente para não provocar reacção no chão.

Caia, reze e mande calar toda a gente.

Transforme-se numa mulher-pássaro e empurre esta festa com o seu grito silencioso e as suas pernas, escorregando até ao próximo painel.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças que fervem” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.

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