Sexta Fábula
Um baile que morde.
Transpirar, chorar a quatro braços, gritar com as pernas, com as botas, com os olhos em bico, evaporar, fazer-se morto, encontrar o abismo do corpo do outro, ceder ao ritmo da fúria, ter o corpo em temperatura máxima
Enfurecer e calar a água com a voz e os dedos.
Fábula coreográfica para dançar (agora)
Era uma vez uma festa que começou muito bem. Raparigas e rapazes bem vestidos, todos alegres, muita música que convidava a dançar. Não se sabe porquês, um rapaz morde o braço de uma rapariga.
Um homem disfarçado de monge oriental entorta os olhos e grita tanto que o chão reage,levanta-se e dele nasce água, que faz os corpos escorregarem.
Uns caem, outro srezam, outros ainda tentam calar o monge e uma mulher-pássaro sobe a um ninho de ferro que, surgido como que por milagre, empurra com o seu grito e as suas pernas esta tragédia.
Todos começam a tentar fugir e a morder o ar que finalmente respiram, sem abismos.
Morda o seu próprio braço.
Entorte os olhos e grite muito, mas silenciosamente para não provocar reacção no chão.
Caia, reze e mande calar toda a gente.
Transforme-se numa mulher-pássaro e empurre esta festa com o seu grito silencioso e as suas pernas, escorregando até ao próximo painel.
* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com ”danças que fervem” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.