Segunda Fábula
O ombro como árvore escura.
Afundar-se, rasgar o espaço com os joelhos, escurecer-se, dançar de costas com a barriga das pernas
Sombra, esculpir o seu fantasma, fumar o tempo e o espaço, caminhar de costas
Mostrar as sombras do espírito nas dobras da cara.
Fábula coreográfica para dançar (agora)
Imagine que se encontra numa floresta escura e densa, cheia de árvores que afinal são enormes cadeiras. Em cima das cadeiras estão pousados muitos sapatos dentro dos quais nasceram pernas.
Procure esticar o seu pescoço, inclinando-o, até começar a ouvir as conversas e os sussurros destas pernas.
Aproxime os seus olhos da barriga das pernas como se elas fossem caras.
Ofereça agora o outro lado da face para receber um beijo dos joelhos, de olhos fechados.
De repente, sinta um pontapé imaginário, como se fosse uma acusação, afastando-se e levando a cabeça rapidamente para trás.
Coloque estes elementos: ouvir, receber beijos, observar pernas e recuar, numa sequência muito lenta e sem rumo definido.
Torne-a agora numa sequência assustada, cheia de mudanças súbitas.
Repita-a, por último, com as mãos nos bolsos e um sorriso forçado.
Veja quem está na sala e convide essa pessoa à observação dos três tons desta fábula, caso tenha coragem.
* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Com “danças densas” prossegue a “segunda estação” – “A dança como fábula”. A exposição pode ser visitada no TCSB, até ao final de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mntém-se aberta até às 24h00.