A Dança como Fábula*

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Teatro da Cerca de São Bernardo, até 30 de Maio

Bem-vindo à segunda estação: ao espaço onde o movimento perde a sua funcionalidade. São nove painéis para visitar, num convite à descoberta do lugar do corpo como um sonho de olhos abertos. Pensemos no princípio de que o corpo é capaz de abandonar o chão que conhece e que assim pode subir acima da experiência quotidiana. O movimento transforma-se desse modo em ficção e em dança, pelo novo contexto em que se apresenta e pelo conhecimento e domínio que revela sobre o corpo. É isto que iremos encontrar na estação da Dança como Fábula.

Os nove painéis que se seguem mostram a dança que acontece à vista dos nossos olhos e também a que transpira por dentro. Uma dança que propõe a experiência de sair de si e que nos escapa, levando consigo a emoção da energia que o corpo descreve no espaço e no tempo de uma vida.

 

Na História da Dança do século XX, existe uma visão, defendida por Rudolf von Laban (1879-1958), que afirma ser nos enigmas do corpo, nas sombras da memória e na sua vivacidade que se aloja toda a matéria da dança.

A dança deixa de ser apenas um conjunto de passos complexos, voltas e saltos acrobáticos, para se transformar no jogo que o corpo faz com o espaço, com o tempo, com o peso e com a fluência da sua energia.

Laban é o mentor e a fonte de inspiração para esta carta.

Para Laban, a dança tem origem no movimento dos homens e da natureza, estendendo-se também à arte teatral, à celebração comunitária e à descoberta pessoal. Através da análise do movimento, desvendou a relação indissociável que existe entre o corpo, a mente e a sensibilidade.

 

Laban construiu danças com bailarinos, mas não só, contou também com leigos que partiam dos seus afazeres e dos seus hábitos para dançar em grandes grupos. Queria, com isso, dignificar o valor estético do movimento humano, dar-lhe um lugar na arte. Queria que todos dançassem, mas também que compreendessem a dança. Laban relacionou a energia própria de cada pessoa com a qualidade do seu movimento e a sua forma de ser, sempre identificada com a sua idade, cultura e com a verdade da sua condição.

Laban desenvolveu a teoria das tensões espaciais, a partir do relacionamento entre o corpo e o espaço. Na nossa necessidade de orientação permanente, existem pontos de referência que nos conduzem e que produzem formas e volumes imaginários. Estas formas traduzem os nossos impulsos mais profundos. Muitas vezes, sem saber, cada pessoa escreve, no espaço e no tempo, a sua dança singular.

A  Laban interessava-lhe criar princípios fundamentais que oferecessem à dança uma dimensão universal, enraizada no movimento humano.

 

Os nove painéis que se seguem apresentam, em jogo simétrico com os nove painéis dedicados ao corpo, a passagem do movimento até ao campo da dança.

Em cada um destes nove painéis, poderemos encontrar no movimento e na energia do corpo a forma que ele desenha no espaço. Poderemos assim compreender e dançar a ideia de que, através das metamorfoses do corpo, se constroem acrobacias para a alma.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Este é o texto de apresentação da segunda estação: “A Dança como Fábula”, cujos painéis serão publicados a partir amanhã. A exposição pode ser visitada no TCSB, até 30 de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mantém-se aberta até às 24h00.

 

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