SINISTERRA em discurso directo [1]


“É imprescindível o texto no teatro? Evidentemente que não. A realidade teatral, principalmente a dos últimos 15 ou 20 anos, demonstra que não, que não é imprescindível. Surgiram nos anos 60 vários acontecimentos teatrais muito significativos que marcaram o sistema teatral na sua totalidade, que marcaram também a própria dramaturgia e que não partem de um texto.

E não só não partem de um texto, como não chegam a constituir um texto. Aquilo que considero imprescindível é a dramaturgia. Ou seja, a estrutura semântica de todos os códigos que intervêm na representação. Essa estrutura pode elaborar-se ao longo do processo de ensaios, através de improvisações, tentativas, provas e erros mas, em definitivo, um espectáculo teatral, na medida em que afirma a sua própria consistência, tem uma dramaturgia, que pode ser elaborada de um modo mais intuitivo ou mais racional, mas que creio ser imprescindível nesse sentido.

O facto de haver tantos espectáculos prescindíveis tem a ver com a falta de dramaturgia. Espectáculos que são na realidade conglomerados de efeitos sensoriais, de materiais heterogéneos dispostos numa ordem arbitrária e sem nenhuma vontade de por um lado, significar e, por outro, conduzir o imaginário do espectador a qualquer parte.”

in Sesiones de trabajo con los dramaturgos de hoy, Ciudad Real, Ñaque Editora, 1999, pp. 98-111.

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