Javier Tomeo, numa foto de arquivo do jornal La Razón, de Connie G. Santos
Luis Alegre, jornalista e professor da Universidade de Saragoça, amigo de Javier Tomeo, conta no seu blogue uma deliciosa história que viveu ao lado do autor. Não resistimos a partilhá-la, quando faltam apenas dois dias para a estreia de TOMEO Histórias Perversas.
Javier Tomeo é único. Como escritor e, sobretudo, como ser humano. Tomeo é incrível, no sentido literal do termo: se não o vês, não acreditas que existe. A sua literatura mergulha no mundo do absurdo, no humor surrealista e grotesco e no retrato do poder dos instintos quando nada os detém. Mas o Javier de todos os dias vai ainda muito mais além.
Numa tarde de 1998 vivi com ele algo assombroso. Javier passava uns dias no meu apartamento da Conde de Aranda. Nessa época, os nossos temas de conversa favoritos eram as mulheres e o Real Zaragoza, por esta ordem. Ele é fanático do Zaragoza, mas diz que não vê os seus jogos em directo porque comprovou que dá azar: se ele estiver a ver, o Zaragoza perde. Javier garante que o Zaragoza ganhou a Taça das Taças em 1995 porque ele se enfiou num cinema durante o encontro. Ao sair, ouviu os gritos das pessoas: Nayim tinha marcado o golo milagroso no último minuto do prolongamento. Javier saltava de alegria quando via a repetição do golo.
Nessa tarde de 1998, disse-me: “Luisito, estou triste. Põe o vídeo do golo do Nayim para ver se me animo”. Assim fiz. Sentámo-nos no sofá e avancei com o vídeo até faltarem apenas uns minutos para o golo. À medida que se aproximava o grande momento, Javier ia ficando cada vez mais entusiasmado e incentivava os jogadores. Ao minuto 113, ouvimos o locutor José Ángel de la Casa dizer: “Substituição no Zaragoza. Vai sair Nayim”. Javier e eu olhámo-nos, perplexos. Por uma fracção de segundo senti-me uma personagem dos seus contos. Contudo, Javier, furioso, levantou-se e começou a ralhar com Nayim enquanto este se dirigia para a linha lateral: “Não saias, rapaz, que vais marcar um golo!!!”. Compreendi que Javier falava muito a sério e que não via nada de estranho no assunto. De imediato, o locutor esclareceu que o responsável por mostrar o número se tinha enganado e que, na realidade, quem tinha de ser substituído era García Sanjuán. Javier relaxou e voltou ao sofá. O jogo no vídeo seguiu o seu curso e Javier voltou a incentivar o Zaragoza. Quando Nayim marcou, abraçámo-nos, eufóricos. E Javier soltou isto: “Se não fosse eu, este gajo não marcava o golo”. Esta é uma dessas histórias de Tomeo em que só acredito porque estava lá.
Já agora, em homenagem a Tomeo e a todos os nossos amigos de Saragoça (e porque é de facto um grande golo), mostramos também o vídeo:
TEATRO
TOMEO Histórias Perversas
A Escola da Noite
textos Javier Tomeo tradução António Augusto Barros, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Sofia Lobo dramaturgia, encenação e espaço cénico António Augusto Barros figurinos, adereços e imagem gráfica Ana Rosa Assunção música Jorri vídeo Eduardo Pinto iluminação António Rebocho interpretação Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Sofia Lobo voz-off Ana Gonçalves figuração e maquinaria de cena Ana Gonçalves e Sofia Coelho cabelos Carlos Gago | Ilídio Design consultadoria de cenografia João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano montagem e operação técnica Rui Valente e Zé Diogo
ESTREIA E TEMPORADA EM COIMBRA
Teatro da Cerca de São Bernardo
14 a 30 de Setembro de 2017
quarta a sábado, 21h30; domingos, 16h00
M/12 > 1h30
Preços: Normal, 10 €; Estudante, jovem, M/65, profissionais e amadores/as de teatro: 6 €; Entidades protocoladas TCSB: 5 €; Assinaturas TCSB: 50 € (10+1 entradas) ou 30 € (5 entradas)
informações e reservas:
239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt