Com efeito, é por comodidade que dizemos que uma certa categoria de obras literárias é “absurda”. Na realidade, a história e a sociedade é que são por vezes absurdas, monstruosas, grotescas, irracionais. A literatura não é mais do que o espelho do homem e dos seus sofrimentos, das suas dúvidas e dos seus combates.
Matéi Visniec,
“Quando uma peça de teatro se torna uma ponte cultural”
TEATRO
Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres
de Matéi Visniec
pel’A Escola da Noite
encenação António Augusto Barros
Escrita pelo dramaturgo romeno Matéi Visniec e nunca antes levada à cena, a peça tem como protagonista Sérgiu Penegaru, um escritor que se recusa a escrever poemas patrióticos e admira o surrealismo. Na Roménia comunista do final da década de 50 do século XX, isso é suficiente para que entre na “lista negra”. As suas obras são proibidas e é preso em Sighet – a penitenciária que realmente existiu, por onde passaram e onde morreram dezenas de presos políticos nesse período. Como forma de resistir ao cárcere, Penegaru e os seus três companheiros de cela divertem-se a representar “A cantora careca”, de Eugène Ionesco.
A memória da realidade concreta que inspirou a escrita da peça (o próprio Visniec foi autor proibido pelo regime de Nicolae Ceausescu), mas também a oportunidade de reflectir sobre a forma como os processos de “lavagem cerebral” actuam na consciência dos indivíduos e condicionam a sua liberdade de pensamento, mesmo em sociedades democráticas e ditas “livres”, são duas motivações indissociáveis para a escolha deste texto, encenado por António Augusto Barros.
Como os autores que Visniec homenageia, e em particular Ionesco e o “teatro do absurdo”, a peça utiliza o humor para evidenciar a violência e o absurdo da própria realidade e mostra-nos como o riso e a arte podem ser formas activas de resistência e de luta pela liberdade.
tradução Luiza Jatobá versão António Augusto Barros e Sofia Lobo elenco Filipe Eusébio, Igor Lebreaud, Jorge Loureiro, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Ricardo Kalash, Sofia Lobo e Joel Santos, Mariana Duarte, Tiago Martins* cenografia João Mendes Ribeiro figurinos, adereços e imagem gráfica Ana Rosa Assunção desenho de luz Rui Simão vídeo Eduardo Pinto som Zé Diogo
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
8 a 25 de Janeiro de 2015
quinta a sábado, 21h30
domingo, 16h00
M/14 > 180′ com 2 intervalos
5 a 10 Euros
*alunos estagiários do 3.º ano do Curso Profissional de Artes do Espectáculo / Interpretação do Colégio São Teotónio
informações e reservas: 239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt
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