Uma “história não convencional do comunismo na Roménia contada através dos seus mitos urbanos”. Assim se apresenta “Histórias da idade de ouro”, o filme idealizado por Cristian Mungiu com que A Escola da Noite e o Instituto Cultural Romeno encerram esta segunda-feira, no Teatro da Cerca de São Bernardo, o ciclo de cinema dedicado a este país.
Composto por seis “episódios”, o filme parte das histórias, “geralmente orais” e baseadas num “acontecimento real”, que circulavam na Roménia dos anos 80, no auge da ditadura de Nicolai Ceausescu: “o argumento – lê-se na sinopse oficial – parte das mais interessantes lendas urbanas da época e recria o quadro de sobrevivência dos romenos nesse período, em que tinham de atravessar as mais inesperadas e ingratas situações geradas pela ilógica do sistema comunista”. Os títulos de cada um destes episódios são sugestivos: a lenda do activista em inspecção, a lenda do fotógrafo oficial, a lenda do comissário político, a lenda do transportador de galinhas, a lenda do polícia guloso e a lenda dos vendedores de ar.
Ao mesmo tempo, “Histórias da idade de ouro” recupera alguns dos pormenores que marcaram toda uma geração de romenos: “cantar o hino nacional no início das aulas; palavras de ordem gritadas à passagem das comitivas oficiais; a felicidade de ter uma banana de Natal; as poupanças em moedas de 1 e 3 lei em frascos de vidro; a venda de taras vazias para ganhar uns trocos”, entre outros.
Idealizado por Cristian Mungiu (realizador de “4 meses, 3 semanas e 2 dias”, que abriu o ciclo no TCSB), o filme conta com a participação de 5 realizadores da nova geração do cinema romeno: para além do próprio Mungiu, Ioana Uricaru, Hano Höfer, Razvan Marculescu e Constantin Popescu.
Em entrevista publicada no site oficial do filme, Mungiu conta: “depois de ter visto ‘4 meses, 3 semanas e 2 dias’, um espectador disse-me que tinha a sensação que estávamos cada vez mais a fazer filmes para festivais e menos para o público e perguntou-me se não podíamos fazer nada para alterar essa situação. Disse-lhe que sim e decidi abrir o projecto ‘Histórias da idade de ouro’ a diferentes realizadores romenos, com idade suficiente para se lembrarem deste período”. Sobre o processo, acrescenta: “escolhi as histórias, escrevi os argumentos, envolvi-me na selecção dos actores e na montagem, assegurando que no final se tratava de um mesmo filme, mas cada realizador teve liberdade de usar a sua própria linguagem cinematográfica”.
À semelhança da maior parte dos filmes romenos contemporâneos que se debruçam sobre o período histórico da ditadura de Ceausescu, o humor e a ironia são utilizados como contraponto à pobreza e à violência vividas no tempo a que se referem.
Como habitualmente neste ciclo, a sessão tem início às 21h30 e a entrada é gratuita. No final, os comentários são assegurados pelo antropólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais Bruno Sena Martins e por Mihaela Mihai, investigadora romena e co-responsável (com Iolanda Vasile) pela organização do Périplo e pela selecção dos filmes.
CINEMA
Histórias da Idade de Ouro
de Cristian Mungiu, Ioana Uricaru, Hanno Höfer, Razvan Marculescu e Constantin Popescu
(Roménia, 2009, 155′)
3/10/2011, segunda-feira, 21h30
entrada gratuita
debate no final com os comentários de Bruno Sena Martins e Mihaela Mihai
Tags: Cristian Mungiu, Histórias da Idade de Ouro, Périplo Cinematográfico Romeno