Ana acorda. Abre um livro à toa, lê.
E, no livro: “Ana acorda. Abre um livro à toa, lê.”
— Estranho, pareço eu — balbucia Ana.
E, de novo no livro, como num jogo de espelhos: “— Estranho, pareço eu — balbucia Ana.”
A Ana do livro era ela, estava certa agora. Intrigada, corre ao fim da história…
“A Ana do livro era ela, estava certa agora. Intrigada, corre ao fim da história… Inesperado, com um leve ranger de porta, André, enfim de volta da Amazónia! Entra, na mão um grande ramo de rosas bravas, como ela gostava. — André, que surpresa! — grita Ana, retrato de felicidade.”
— André, que surpresa! — grita Ana, retrato de felicidade. “André sopra a zarabatana, dissimulada entre as rosas. A seta de curare letal entra fundo na garganta da namorada, como uma zaragatoa. Ah!”
— Ah!
Augusto Baptista, in Histórias de coisa nenhuma e outras pequenas significâncias. Porto, Campo das Letras, 2000.