A Escola da Noite, Estreia de Animais Nocturnos, Juan Mayorga, 15.12.11
Entre outras coisas, trouxe de Animais Nocturnos a expressão de Arquílogo “A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito importante”. De alguma forma, acho que esta expressão pode sintetizar Animais Nocturnos (talvez a sua parábola?). Pelo menos pode ajudar a essa síntese.
Trata-se, de facto, de personagens diferentes, com mundividências diferentes e atitudes também elas diferentes: por um lado, o espírito pequenino de quem gosta de manipular os outros, de exercer um certo poder, tentando menorizar e assustar o outro (quantos não conhecemos por aí?) e, por outro, um certo espírito de liberdade, que resiste à chantagem que não cabe naquele “aquário” e rompe esse universo (raposa?).
Embora a cenografia convide a encontros, Animais nocturnos fala mais de desencontros. As personagens cruzam-se em palco, relacionam-se, convivem, mas isso não garante que elas se encontrem.
Nestes desencontros mais do que encontros, também os diálogos são mais monólogos. É cada um a falar para si e de si. Cada um a falar sozinho, mesmo partilhando o mesmo espaço.
Às vezes tão sozinho, que essa solidão é reforçada pela televisão e pelo telemóvel, que são, muitas vezes, recursos inequívocos de quem está e se sente só. Absurdo? Conversa de surdos? Completamente.
E não são muitos esses os diálogos, leia-se monólogos, que nos damos conta que acontecem hoje ao nosso lado?
Solidões. Gente sozinha. Já Paloma Pedrero, em Noite de Amores Efémeros, numa outra encenação d’A Escola da Noite, nos contava estórias de vidas difíceis, onde o pior de tudo era mesmo a solidão.
Por mim, acho que este é quase o problema central deste século, para usar a expressão emprestada de alguém.
Aliás, no texto de Juan Mayorga, ironicamente, o local ideal de encontro (possibilidade de saída do “aquário”) é a estação de caminho-de-ferro, onde para a concretização do encontro é necessário um chapéu a acenar de uma das janelas do comboio, para garantir que esse encontro se realiza. E não simboliza a viagem possibilidade de realização dos nossos sonhos?
Só uma nota final a propósito do autor.
Li no programa de Animais Nocturnos:
“Eu escrevo teatro… porque me faz feliz”;
“No nosso tempo há cada vez menos ocasiões para as pessoas se reunirem e o teatro é uma delas”. Gosto destas duas ideias.
Gi Negrão, 15.12.11
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