Antes que seja tarde

Sai amanhã o número 3 do Jornal das Companhias. Pré-publicamos o editorial, em nome três teatros que fazem a Culturbe.

ANTES QUE SEJA TARDE

A rede Culturbe faz dois anos. Até ao final de Maio de 2012, circularam pelas três cidades 10 companhias nacionais e internacionais e quase 30 espectáculos de teatro e dança vistos por mais de 6 mil espectadores. Foram organizadas várias oficinas para mais de 500 formandos, nas áreas da dramaturgia, da interpretação, da manipulação de marionetas e de movimento.

Até ao final do ano (e, desejavelmente, também em 2013), esta rede abarcará ainda mais companhias, espectáculos e acções de formação, prosseguindo a sua missão de complemento à programação dos três teatros municipais com companhia residente que a compõem.

Dois anos depois, a Culturbe volta a proporcionar ao público um momento de festa, com o Festival das Companhias da Descentralização, uma das linhas essenciais do seu programa. Serão cinco dias de intensa actividade, com a presença de seis companhias de teatro e a apresentação de sete espectáculos distintos, tendo como sede o Teatro Garcia de Resende, em Évora. É uma boa forma de celebrarmos, com o público e com os artistas, a passagem deste aniversário.

O festival devia ter sido realizado em 2011. Incompreensíveis atrasos na formalização dos contratos de financiamento da rede (no âmbito do QREN) inviabilizaram essa possibilidade e têm condicionado a programação. Ao fim de dois anos, e com toda esta actividade realizada, nenhum dos três teatros recebeu ainda qualquer parcela da comparticipação atribuída.

Se num contexto normal isso já seria grave, na situação actual é verdadeiramente calamitoso. Com as variantes decorrentes dos contextos jurídicos, políticos e institucionais de cada Teatro, o cerco aperta-se por todos os lados – lei dos compromissos, cortes no financiamento da Direcção-Geral das Artes, aumento do IVA, quebra generalizada das verbas de patrocínio e mecenato e, à excepção de Braga, atrasos no pagamento das autarquias.

As redes de programação como a Culturbe, financiadas por programas comunitários, foram criadas para potenciar o trabalho de estruturas que supostamente teriam uma estabilidade mínima. Face à drástica redução dos orçamentos próprios dos teatros públicos, elas converteram-se entretanto numa espécie de bóia de salvação, que ajudava a disfarçar o desinvestimento estatal. Hoje em dia, com estes atrasos, elas transformaram-se num problema adicional com que os teatros têm de lidar, agravando a sua já muito débil sustentabilidade financeira.

Neste caso, não colhe sequer o argumento da crise ou da “austeridade necessária”. Pelo contrário, o dinheiro vem “de fora” e em nada onera as contas do Estado. Ele poderia e deveria estar a ser usado para dinamizar o sector.

É importante dizer que a Administração Central não investe neste momento dinheiro nenhum no funcionamento e na programação dos teatros públicos espalhados pelo país. O que está a ser feito acontece graças ao investimento das autarquias ou ao que as companhias residentes retiram ao seu próprio orçamento para os colocar a funcionar. Os fundos comunitários são obviamente uma boa solução para evitar que o país retroceda 20 anos, ao tempo em que nem as capitais de distrito tinham salas de espectáculo a funcionar. E não têm de custar dinheiro ao Estado – exigem apenas agilização de procedimentos e, na falta de meios próprios, a definição de políticas que consigam aproveitar a capacidade instalada no terreno e potenciá-la com os recursos externos captados.

Em tempo de crise generalizada, os teatros estão à beira do colapso. Queremos evitá-lo e queremos discutir o assunto, acreditando que é ainda possível encontrar soluções.

É também para isso que se faz este festival. Antes que seja tarde.

A Escola da Noite / TCSB

Centro Dramático de Évora / TGR

Theatro Circo de Braga

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