diário do festival (1)

Festejar o quê – recomendaria o bom senso que nos perguntássemos – se invariavelmente, logo depois dos primeiros abraços, desatamos a contar misérias, a confrontar estreitezas de horizontes, a comparar as extensões dos danos do que nos estão a fazer.

E no entanto festejamos. O estarmos vivos, como dizia o Bruce Springsteen no domingo passado. E o termos sabido – acrescentamos nós – construir esta comunidade teatral que gosta de se juntar e de assim se mostrar ao público, nas suas diferenças, contradições e complementaridades.

É verdade que esta edição do Festival começa com um sabor muito mais amargo do que as anteriores. Que sofremos com os despedimentos que já tivemos de fazer, que ainda andamos a fazer contas e a inventar soluções para chegar até ao final do ano e que nos angustia esta incerteza face ao futuro próximo. Que nos ofende a inutilidade arrogante das instituições públicas que deviam assegurar, em parceria com os artistas nacionais, o acesso de toda a população a todas as formas de expressão artística.

Mas não desistimos. E hoje, ainda a CTB não tinha subido ao palco para oficialmente abrir o V Festival das Companhias da Descentralização, já se falava do sexto, com o Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Covilhã.

Festejar o teatro é também isto – inventar luzes onde e quando apenas nos querem condenar às trevas. Por isso aqui estamos, seis companhias e mais de 50 profissionais de teatro, na premiada Évora, perante a indiferença da autarquia mas recebidos de braços abertos pelo Cendrev e pelo público da cidade.

Estamos em festa e a vivê-la (manda o bom senso) como se fosse a última.

Esta já ninguém vos tira!

 Pedro Rodrigues,

Évora, 5 de Junho de 2012

seguinte

 

Tags: , , , ,

Comments are closed.