Archive for Junho, 2012

Fernando Sena e o silêncio do Governo sobre o financiamento à criação artística: “parece que se vai prolongando o tempo para convencer as pessoas de que já não há”

Quinta-feira, Junho 14th, 2012

Fernando Sena

Fernando Sena, director do Teatro das Beiras, da Covilhã, e Pedro Rodrigues (A Escola da Noite) falam à Antena Um (12’50) sobre a situação em que estão as suas companhias.

José Russo: “O homem do teatro não é diferente do outro homem da nossa sociedade”

Quarta-feira, Junho 13th, 2012

José Russo

José Russo, director artístico do CENDREV e actor em “O Abajur Lilás”, falava assim à TSF.

Há dois meses…

“O Abajur Lilás” no Theatro Circo de Braga

Terça-feira, Junho 12th, 2012

A Escola da Noite e o Cendrev – Centro Dramático de Évora apresentam a 14 e 15 de Junho, no Theatro Circo de Braga, o espectáculo “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. A co-produção estreou em Abril no Teatro Garcia de Resende e encontra-se actualmente em digressão nacional. O regresso das duas companhias a Braga acontece no âmbito da rede Culturbe, que junta os teatros municipais de Braga, Coimbra e Évora.

Ana Meira, "O Abajur Lilás" (foto: Paulo Nuno Silva)

Três prostitutas – Dilma, Célia e Leninha – partilham o quarto onde vivem e trabalham. O proprietário do prostíbulo exerce pressão sobre elas para que aumentem a produtividade, socorrendo-se sempre que necessário de Osvaldo, o seu capanga. As relações entre as diferentes personagens são utilizadas por Plínio Marcos para falar da situação do Brasil na década de 60, sob a ditadura – a peça foi escrita (e proibida pela primeira vez) em 1969. Em 1975, depois de uma segunda proibição, “O Abajur Lilás” viria mesmo a tornar-se uma bandeira em defesa da liberdade de expressão e contra as diferentes formas de opressão e exploração.
Sábato Magaldi, crítico brasileiro, considerou-a como “a mais incisiva, dura e violenta” das peças que analisaram a situação brasileira pós-1964 (data do golpe de estado que instituiu a ditadura militar) e afirmou que ela servia “de desnudamento de um período de terror”. Salientou, também, a universalidade e a intemporalidade do tema que, metaforicamente, percorre toda a obra: ela é “um contundente veredicto contra o poder ilegítimo”.

Um português amplo
Reconhecido pela linguagem marginal que utilizava nas suas peças, Plínio Marcos assumia a intenção: “escrevia como se falava nas cadeias. Como se falava nos puteiros. Se o pessoal das faculdades de linguística começou a usar minhas peças nas suas aulas e pesquisas, que bom! Isso era uma contribuição para o melhor entendimento entre as classes sociais”.
“O Abajur Lilás” está carregado dessa gíria específica, identificado com a zona portuária da cidade de Santos (São Paulo), de onde o autor era natural. Mas Plínio acrescentava sempre expressões e palavras novas, criadas por si, repletas de significado, força e poesia.
Propositadamente, a versão apresentada pelo Cendrev e pel’A Escola da Noite respeita o texto original praticamente na íntegra. Por um lado, porque seria impossível fazer uma adaptação ao “português de Portugal” sem afectar a estrutura original da peça; por outro lado, porque este português amplo oferece ao espectador um surpreendente conjunto de palavras e expressões pouco utilizadas na linguagem do dia a dia mas que fazem parte da diversidade e da riqueza da língua portuguesa, que demasiadas vezes permanecem esquecidas.

Esta co-produção
O Cendrev (fundado em 1975) e A Escola da Noite (fundada em 1992) pertencem a duas “vagas” distintas da descentralização artística em Portugal e mantêm há muito relações de colaboração e intercâmbio. “O Abajur Lilás”, encenado por António Augusto Barros e com cenografia de João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano, é a primeira co-produção entre os dois grupos.

O Abajur Lilás
de Plínio Marcos

encenação António Augusto Barros  interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho banda sonora André Penas

M/16 > 1h40, com intervalo

Braga, Theatro Circo
14 e 15 de Junho
quinta e sexta-feira, 21h30

comunicado

Segunda-feira, Junho 11th, 2012

V Festival das Companhias da Descentralização

Évora, 5 a 9 de Julho de 2012

COMUNICADO

Decorreu em Évora, entre 5 e 9 de Junho, a quinta edição do Festival das Companhias da Descentralização, com a participação d’A Escola da Noite (Coimbra), da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, do Centro Dramático de Évora, da Companhia de Teatro de Braga, do Teatro das Beiras (Covilhã) e do Teatro do Montemuro. Em diferentes espaços do Teatro Garcia de Resende, foram apresentadas 11 sessões de sete espectáculos diferentes, vistos por cerca 700 espectadores. A próxima edição terá lugar na Covilhã, organizada pelo Teatro das Beiras de acordo também com o interesse manifestado pelo respectivo Vereador da Cultura, presente na abertura do Festival.

Mantendo a tradição, a iniciativa cumpriu a função de encontro das dezenas de profissionais que trabalham nas seis estruturas de criação artística. O panorama é assustador: para além dos cortes no financiamento público entre 38 e 60% sofridos nos últimos dois anos, há atrasos na liquidação de apoios comunitários; incapacidade de garantir a contrapartida nacional em projectos internacionais; dificuldade crescente na angariação de patrocínios; retracção dos públicos; redução drástica das possibilidades de digressão pelo território nacional. Muitas autarquias, parceiros essenciais das companhias ao longo dos anos, estão a denunciar protocolos e há outras que se atrasam anos em pagamentos contratualizados. Em consequência, registaram-se já dezenas de despedimentos (e outros estão programados), multiplicam-se as pessoas a trabalhar a meio tempo, há salários em atraso, crescem as dívidas a fornecedores e os empréstimos, bancários ou pessoais, para fazer face a urgências de tesouraria.

A somar a tudo isto, subsiste uma terrível incerteza sobre o futuro próximo. Os contratos quadrienais ou bienais ao abrigo dos quais estas companhias têm prestado o serviço público que as carateriza terminam no final de Dezembro e o Governo nada diz sobre o que quer ou pensa fazer em relação aos próximos anos. A indisponibilidade do Secretário de Estado e da Direcção-Geral das Artes para sequer se fazerem representar no debate organizado pelo Festival é apenas mais uma manifestação do desprezo das instituições públicas que tutelam o sector, não apenas pelo trabalho destas seis companhias mas pela globalidade da criação artística nacional. Depois de, entre Dezembro de 2011 e Janeiro de 2012, terem andado pelo país a dizer que queriam discutir “um novo modelo de financiamento”, acantonaram-se e têm permanecido escondidos, à espera que ninguém os interpele e como quem aguarda instruções superiores. Com esta atitude, foram deixando que se instalasse a ideia – entre públicos, estruturas de criação e até chefias intermédias da Secretaria de Estado da Cultura – de que se calhar até iria deixar de haver financiamento público à criação artística em Portugal. Entretanto, o sector agoniza, fica desestruturado e impossibilitado de projectar o que quer que seja em relação aos próximos anos.

Este insustentável silêncio por parte do Governo foi interrompido no sábado pelo Secretário de Estado, em resposta a uma dramática declaração de Luis Miguel Cintra. Disse ele, atirando areia para os olhos das pessoas, que “os concursos” irão abrir em Setembro. Importa dizer que a abertura dos “concursos” através dos quais o Estado financia a criação artística em Portugal decorre da lei. E que, portanto, caso lhe passasse pela cabeça não os abrir este ano, teria no mínimo de apresentar uma justificação qualquer e de se dar ao trabalho de encontrar o mecanismo legal que lhe permitisse não o fazer. E, já agora, de justificar perante a Assembleia da República e o país a forma como pretende cumprir o desígnio constitucional de garantir o direito “à criação e fruição cultural” de todos os cidadãos.

A “notícia” não só não nos tranquiliza como nos deixa indignados, pelo que revela de desinteresse pelas consequências do desinvestimento público junto de estruturas como as nossas, junto dos nossos trabalhadores e dos nossos públicos.

Neste contexto, as seis companhias da descentralização abaixo identificadas:

– alertam o Governo, o público e a população em geral para o facto de estarem à beira da extinção. A manutenção do actual nível de financiamento determinará o seu desaparecimento, dada a insustentável situação em que se encontram;

– exigem que o Governo clarifique rapidamente o prazo e as condições em que pretende abrir os concursos de apoio plurianual às estruturas de criação artística, nomeadamente no que diz respeito ao orçamento global, número de projectos a apoiar e requisitos de acesso;

– defendem que o processo relativo aos financiamentos a atribuir nos próximos anos esteja totalmente concluído (e não apenas supostamente iniciado) até ao final de Setembro, de forma a que as companhias possam adaptar-se, salvaguardar os direitos dos seus trabalhadores, preparar e rentabilizar adequadamente a sua actividade e procurar fontes complementares de financiamento.

Évora, 10 de Junho de 2012

A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra
ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve
Centro Dramático de Évora
Companhia de Teatro de Braga
Teatro das Beiras
Teatro do Montemuro

diário do festival (5)

Segunda-feira, Junho 11th, 2012

As palavras às vezes são feias e preferimos não as usar, encontrando outras maneiras (quase sempre menos certeiras) de dizer o que pensamos.

O Abel fartou-se. Para ter a certeza de que os destinatários o entendiam, resolveu usar um português completo (o único à altura da situação em que nos encontramos) na abertura do debate “O Teatro em tempo de crise”, no último dia do Festival das Companhias.

Neste mesmo debate, soaram os ecos da suposta reacção do Secretário de Estado da Cultura às declarações de Luis Miguel Cintra na entrevista à Antena Um. A meio de uma paciente explicação sobre a utilidade pública da arte, e denunciando o silêncio do Governo quanto ao financiamento da criação artística para os próximos anos, o director da Cornucópia disse que, sem o apoio do Estado, os criadores teriam de se prostituir para poder continuar a fazer o seu trabalho. Tenha sido pela fealdade da palavra ou pelo respeito que o encenador não pode deixar de impor ao actual titular da pasta da Cultura, Francisco José Viegas sentiu-se obrigado a dizer qualquer coisa. Veio dizer que “os concursos” vão abrir em Setembro. E que, portanto, não há razões para alarme nem para pessimismos.

Perante uma sala com cerca de 50 profissionais do teatro prestes a ficar sem trabalho, a Directora Regional da Cultura do Alentejo transmitiu, com um sorriso simpático, a “boa nova”.

Sem o talento do Abel Neves nem a acutilância do Luis Miguel Cintra, falta-me a palavra feia apropriada para qualificar a atitude destes governantes que já nem se dão conta do ridículo e acham que é uma benesse garantir ao povo que vão cumprir a lei. É que nós, pelos vistos mais confiantes na sua idoneidade do que eles próprios, não colocávamos isso em causa. O que precisamos urgentemente de saber é em que condições abrem tais concursos, com que orçamentos, com que prazos. Não é uma questão de estados de alma – é uma questão de sobrevivência. Disso depende sabermos se as nossas companhias continuam a existir depois de Dezembro de 2012, se os nossos trabalhadores têm emprego daqui a seis meses e, já agora, se alguns dos teatros que estes grupos mantêm abertos continuarão a funcionar no próximo ano.

Sabemos que nada disto interessa para meia dúzia de ideólogos do regime, daqueles que – sem os pudores que nos têm condicionado em relação à linguagem – nos chamam subsidiodependentes, mentecaptos, mendigos “de chapéu na mão” e chantangistas, “tropa fandanga” e nos acusam de “mamar” no Estado. Mas o que verdadeiramente nos indigna é que responsáveis políticos – por mais cordatos, simpáticos e bem-educados que sejam na forma como se nos dirigem – nos tratem como estúpidos enquanto vão acabando com o teatro em Portugal.

Pedro Rodrigues

Évora, 9 de Junho de 2012

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