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José Bernardes no Porto: Gil Vicente escreveu “uma obra” que é preciso conhecer no seu conjunto

Terça-feira, Janeiro 16th, 2018

Na entrevista a Pedro Sobrado realizada ao vivo, perante uma sala cheia, José Augusto Bernardes destacou ontem no Teatro Carlos Alberto, no Porto, a vantagem de ler “a obra” de Gil Vicente como “um todo articulado” e não como um conjunto de autos que se sucedem uns aos outros. A sessão abriu o programa da temporada de “Embarcação do Inferno”, co-produção d’A Escola da Noite e do Cendrev, que decorre até ao próximo domingo nesta sala do Teatro Nacional São João.

"Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo" - conferência / entrevista de José Bernardes a Pedro Sobrado, Teatro Carlos Alberto, Porto, 15/01/2018

“Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo” – conferência / entrevista de José Bernardes a Pedro Sobrado, Teatro Carlos Alberto, Porto, 15/01/2018

Essa leitura global, especificou Bernardes (que o recém-nomeado Presidente do Conselho de Administração do TNSJ Pedro Sobrado classificou como “provavelmente, o maior especialista em Gil Vicente do Mundo”), permite perceber como as diferentes peças dialogam umas com as outras e identificar as principais componentes estéticas que caracterizam o reportório vicentino. Recordando o tema do seu trabalho de doutoramento, o investigador e professor universitário de Coimbra destacou a sátira e o lirismo como duas das linhas que percorrem o “corpus” dramático de Gil Vicente. Uma sátira que “é cirúrgica” – “denuncia, corrói e desmonta” problemas do tempo em que o autor viveu, mas é utilizada para “sarar a ferida”. É aí que entra o lirismo, que Bernardes classifica como “estratégia de contraponto” e como forma de “apontar linhas de correcção”.
Referindo-se sempre à diversidade de registos presentes nas cerca de 50 obras e nos quase 100 mil versos escritos por Gil Vicente, José Bernardes salientou a profundidade das interpelações que o seu teatro ainda hoje nos faz, não porque o autor tenha antecipado o que iria acontecer no século XXI, mas porque fala de temas inerentes à condição humana. É nesse sentido que ele “fala ao nosso tempo a partir do seu tempo” e é por isso que “podemos descobrir as nossas próprias inquietações com textos de há 500 anos”. No caso concreto do “Auto da Barca do Inferno”, que A Escola da Noite e o Cendrev apresentam com o título “Embarcação do Inferno” e que Bernardes classifica como “uma coreografia da morte e da vida”, encontramos, por exemplo, “meditações sobre a vida e a morte, sobre a alienação, sobre a consciência que algumas pessoas têm de que não podem ser condenadas”.
Contrariando os lugares-comuns relativamente disseminados que qualificam a obra de Vicente como “boçal” ou “primária”, Bernardes chamou contudo a atenção para a necessidade de se repensar a forma como a obra do dramaturgo é ensinada na escola, recomendando menos exaustividade na análise de determinadas peças e mais intensidade na interpretação dos textos e dos signos teatrais que eles incorporam. Deve-se contrariar a sensação de “saciedade” e, pelo contrário, estimular a curiosidade dos alunos para que descubram a riqueza e a diversidade do seu trabalho.

"Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo" - conferência / entrevista de José Bernardes a Pedro Sobrado, Teatro Carlos Alberto, Porto, 15/01/2018

“Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo” – conferência / entrevista de José Bernardes a Pedro Sobrado, Teatro Carlos Alberto, Porto, 15/01/2018

Embarcação do Inferno
Desenvolvido em co-produção por duas das companhias portuguesas que mais aprofundadamente têm trabalhado e dado a conhecer a obra de Gil Vicente – A Escola da Noite, de Coimbra, e o Centro Dramático de Évora –, o projecto “Embarcação do Inferno”, centrado no espectáculo com encenação de António Augusto Barros e José Russo, teve início em Outubro de 2016 e inclui sessões para o público em geral, sessões para escolas, o ciclo de conferências “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo” e oficinas para professores. Conta já com mais de 100 apresentações e está prestes a atingir os 10 mil espectadores. Para além de Coimbra e Évora, passou já por quase uma dezena de outras localidades nacionais: Campo Benfeito, Bragança, Aveiro, Viana do Castelo, Caldas da Rainha, Barreiro, Figueira da Foz e Castelo Branco. Até 21 de Janeiro, pode ser visto no Teatro Carlos Alberto, no Porto: de quarta a sexta-feira às 21h00, no Sábado às 19h00 e no Domingo às 16h00. As sessões para escolas (já esgotadas) têm lugar nos dias 18 e 19 de Janeiro (às 15h00) e no Sábado terá lugar, entre as 11h00 e as 17h30 a oficina para professores (também lotada).
Os bilhetes para o espectáculo custam 10 Euros e podem ser adquiridos online ou nas bilheteiras do Teatro Nacional São João / Teatro Carlos Alberto.

TEATRO
“Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente
co-produção A Escola da Noite / Cendrev

PORTO, TEATRO CARLOS ALBERTO
17 a 21 de Janeiro de 2018
quarta a sexta-feira, 21h00
sábado, 19h00
domingo, 16h00
sessões para o público escolar:
18 e 19 de Janeiro de 2018
quinta e sexta-feira, 15h00

Conferência/Entrevista com José Bernardes
15 de Janeiro de 2018
segunda-feira, 21h00
entrada gratuita

Oficina para professores
20 de Janeiro de 2018
11h00 – 13h00 / 14h30 – 17h30

informações e reservas:
223 401 951 / relacoespublicas@tnsj.pt

Embarcação do Inferno no Porto: “discreta invenção” abre ano teatral do Teatro Nacional São João

Quarta-feira, Dezembro 13th, 2017

“Embarcação do Inferno”, a co-produção com que A Escola da Noite e o Cendrev assinalam os 500 anos do mais conhecido texto de Gil Vicente, é a primeira proposta teatral para 2018 do Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, cuja programação trimestral foi anunciada hoje em conferência de imprensa. A temporada inclui espectáculos para o público em geral e para o público escolar, uma oficina para professores e uma entrevista ao vivo com José Bernardes e terá lugar no Teatro Carlos Alberto, entre 15 e 21 de Janeiro de 2018.

Francisca Carneiro, Nuno Carinhas e António Augusto Barros

Francisca Carneiro Fernandes, Nuno Carinhas e António Augusto Barros

Na conferência de imprensa realizada esta quarta-feira no Salão Nobre do TNSJ, que contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura, Nuno Carinhas, director artístico do Teatro Nacional, referiu o “gosto especial” que tem em acolher este projecto e estas companhias, salientando a longevidade da carreira do espectáculo, que conta já com mais de 100 apresentações. Para além das sete apresentações previstas (17 a 21 de Janeiro), o programa da temporada no Porto inclui uma oficina para professores (sábado, 20 de Janeiro) e abre com uma entrevista ao respeitado vicentista José Augusto Cardoso Bernardes, conduzida por Pedro Sobrado (segunda-feira, 21h00).
António Augusto Barros, director artístico d’A Escola da Noite e co-encenador do espectáculo, manifestou a sua satisfação pelo facto de o espectáculo poder ser visto no Porto, no âmbito da digressão nacional iniciada há um ano. Lembrou alguns dos pontos de partida do processo de criação artística, como a homenagem à manifestação artística tradicional dos Bonecos de Santo Aleixo (também relacionada com a impossibilidade de qualquer uma destas companhias poder actualmente assegurar o elenco exigido por uma peça como a “Barca do Inferno”) e a “necessidade de reavaliarmos, nos dias de hoje, o legado de Gil Vicente”. Sobre este último aspecto, destacou as “fontes renascentistas” que inspiram a obra de Vicente e “a questão judaica”, que considera “insuficientemente explorada” nos estudos vicentinos.
Citando a expressão que Garcia de Resende utilizou para qualificar o trabalho de Gil Vicente, referiu-se ao espectáculo como uma “discreta invenção”, “no sentido que no século XVI esta palavra também tinha e que entretanto se perdeu: o de inteligente”. “Assim tentámos que fosse – verão, agora no Porto, se conseguimos ou não”, concluiu António Augusto Barros.

ConfImprensaTNSJ01

Um projecto amplo, a percorrer o país
Co-produzida por duas das companhias portuguesas que mais aprofundadamente têm trabalhado o património vicentino, “Embarcação do Inferno” estreou em Outubro de 2016 em Évora, no Teatro Garcia de Resende. Desde então, o espectáculo foi apresentado em mais de 100 récitas, às quais assistiram perto de 10 mil espectadores, entre os quais largas centenas de alunos e professores do ensino secundário. Para além das duas cidades das companhias – Évora e Coimbra –, o projecto passou já por outras oito localidades portuguesas, de sete distritos diferentes: Campo Benfeito (Viseu), Bragança, Aveiro, Viana do Castelo, Caldas da Rainha (Leiria), Barreiro (Setúbal), Figueira da Foz (Coimbra) e Castelo Branco. Entre o conjunto das actividades propostas pelos grupos para assinalar os 500 anos da primeira apresentação e publicação do “Auto da Barca do Inferno” (2016-2018) estão, a par dos espectáculos, oficinas para professores e o ciclo de conferências “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo”, coordenado por José Augusto Cardoso Bernardes, professor e investigador na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e consultor científico do projecto.
O espectáculo é co-encenado pelos directores artísticos das duas companhias – António Augusto Barros e José Russo – e conta com um elenco misto: Ana Meira, Jorge Baião, José Russo, Rosário Gonzaga e Rui Nuno (Cendrev) e de Igor Lebreaud, Maria João Robalo e Miguel Magalhães (A Escola da Noite). A equipa inclui ainda Ana Rosa Assunção (figurinos e bonecos), João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano (cenografia), António Rebocho (iluminação) e Luís Pedro Madeira (música).
Ao longo de 2018 e até Janeiro de 2020, o projecto continuará “na estrada” e regressará anualmente ao Teatro Garcia de Resende e ao Teatro da Cerca de São Bernardo, em Évora e em Coimbra, onde Cendrev e A Escola da Noite, respectivamente, são companhias residentes. No âmbito da digressão nacional do próximo ano estão já confirmadas, para além do Porto, as passagens por Leiria (ainda em Janeiro) e por Braga (em Novembro).
A Escola da Noite e o Cendrev apresentaram recentemente as suas candidaturas ao Programa de Apoios Sustentados – Quadrienais da DGArtes, incluindo nos respectivos planos de actividades a continuidade e o aprofundamento deste projecto emblemático no percurso das duas estruturas.

TEATRO
“Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente
co-produção A Escola da Noite / Cendrev

Porto, Teatro Carlos Alberto

17 a 21 de Janeiro de 2018
quarta a sexta-feira, 21h00
sábado, 19h00
domingo, 16h99
M/12 > 60’ > 10,00 €
sessões para o público escolar:
18 e 19 de Janeiro de 2018
quinta e sexta-feira, 15h00

Conferência/Entrevista com José Bernardes
15 de Janeiro de 2018
segunda-feira, 21h00
entrada gratuita

Oficina para professores
20 de Janeiro de 2018
11h00 – 13h00 / 14h30 – 17h30

informações e reservas:
223 401 951 / relacoespublicas@tnsj.pt