“O Abajur Lilás”: peça contra o poder ilegítimo, escrita num português amplo

Estreia esta quarta-feira em Coimbra, no Teatro da Cerca de São Bernardo, “O Abajur Lilás”, de Plínio Marcos. O espectáculo é uma co-produção entre A Escola da Noite e o Cendrev e tem encenação de António Augusto Barros, cenografia de João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano e um elenco misto, com actores das duas companhias. Depois da temporada inicial na cidade alentejana, chega agora a Coimbra para uma série de 11 espectáculos.

 

Três prostitutas partilham o quarto onde vivem e trabalham. O proprietário do prostíbulo exerce pressão sobre elas para que aumentem a produtividade, socorrendo-se sempre que necessário de Osvaldo, o seu capanga.
Considerada como a mais incisiva das peças que analisaram a situação brasileira durante a ditadura que se seguiu ao golpe de Estado de 1964, “O Abajur Lilás” foi escrita (e proibida pela primeira vez) em 1969. Em 1975, depois de uma segunda proibição, viria mesmo a tornar-se uma bandeira em defesa da liberdade de expressão e contra as diferentes formas de opressão e exploração. Ela servia, nas palavras do crítico brasileiro Sábato Magaldi, “de desnudamento de um período de terror”. O mesmo autor salienta, no entanto, a universalidade e a intemporalidade do tema que, metaforicamente, percorre toda a obra: “O Abajur Lilás” é “um contundente veredicto contra o poder ilegítimo”.

Um português amplo
Tal como todas as outras peças de Plínio Marcos, “O Abajur Lilás” está escrito numa linguagem marginal e carregado da gíria específica de Santos (São Paulo), de onde o autor era natural.
Propositadamente, a versão apresentada pelo Cendrev e pel’A Escola da Noite respeita o texto original praticamente na íntegra. Por um lado, porque seria impossível fazer uma adaptação ao “português de Portugal” sem afectar a estrutura original da peça; por outro lado, porque este português amplo oferece ao espectador um surpreendente conjunto de palavras e expressões pouco utilizadas na linguagem do dia a dia mas que fazem parte da diversidade e da riqueza da língua portuguesa, que demasiadas vezes permanecem esquecidas.

Esta co-produção
O Cendrev (fundado em 1975) e A Escola da Noite (fundada em 1992) pertencem a duas “vagas” distintas da descentralização artística em Portugal e mantêm há muito relações de colaboração e intercâmbio. “O Abajur Lilás” é a primeira co-produção entre os dois grupos. Depois da estreia e da temporada em Évora, em Abril, o espectáculo chega agora a Coimbra. Está em cena no Teatro da Cerca de São Bernardo entre 16 e 27 de Maio, de terça a sábado às 21h30 e aos domingos às 16h00.

O Abajur Lilás
de Plínio Marcos

encenação António Augusto Barros
interpretação Ana Meira, José Russo e Rosário Gonzaga (Cendrev) e Maria João Robalo e Miguel Lança (A Escola da Noite) cenografia João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano figurinos Ana Rosa Assunção desenho de luz António Rebocho banda sonora André Penas

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
16 a 27 de Maio
terça a sábado, 21h30; domingos, 16h00
M/16 > 1h40 com intervalo > 5 a 10 €
informações e reservas: 239 718 238 / geral@aescoladanoite.pt

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15 Responses to ““O Abajur Lilás”: peça contra o poder ilegítimo, escrita num português amplo”

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  2. […] A história é simples: três prostitutas partilham o quarto onde vivem e recebem os seus clientes. O dono da casa acha que elas estão a render pouco e exerce sobre elas todo o tipo de violência – ameaças, chantagem, extorsão, tortura -, com a ajuda de uma espécie da capanga. […]

  3. […] e venha conhecer o nosso mais recente espectáculo: “O Abajur Lilás”, de Plínio […]

  4. […] O Abajur Lilás, de Plínio Marcos […]

  5. […] espectadores que quiserem assistir no mesmo dia a “Santíssima Apunhalada” e a “O Abajur Lilás” (que estreou em Coimbra na passada semana) podem comprar um bilhete para os dois espectáculos por […]

  6. […] o espectáculo é às 16h00. Contamos […]

  7. […] São três prostitutas que vivem e trabalham subjugadas ao poder do proprietário da casa, Giro. “O Abajur Lilás” é o nome da mais recente co-produção d’ A Escola da Noite com o Centro Dramático de […]

  8. […] espectáculo d’A Escola da Noite e do CENDREV e o cenário de João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano através de um olhar muito […]

  9. […] O espectáculo pode ser visto até domingo, no TCSB. […]

  10. […] O Abajur Lilás (16h00) e Santíssima Apunhalada (19h00) despedem-se hoje de Coimbra. […]

  11. […] “O Abajur Lilás”, co-produção CENDREV / A Escola da Noite […]

  12. […] meio deste festival de elogios à condição humana, voltou hoje a surgir no Garcia de Resende um dono de prostíbulo que só pensa na facturação. Em nome da produtividade das suas “empregadas”, não hesita em […]