Embarcação do Inferno: sobre a versão utilizada

Jorge Baião, Miguel Magalhães e José Russo, "Embarcação do Inferno" (foto de ensaio - Pedro Rodrigues)

Jorge Baião, Miguel Magalhães e José Russo, “Embarcação do Inferno” (foto de ensaio – Pedro Rodrigues)

O texto utilizado neste espectáculo é, no essencial, o texto a que chegou Paulo Quintela, em 1946, confrontando as duas versões avulsas e as duas inseridas nas compilações de 1562 e 1586. Quintela baseou-se fundamentalmente na versão de 1562 e enriqueceu-a com a edição princeps, folheto avulso redescoberto nessa época na Biblioteca Nacional de Madrid, com data próxima de 1518. A sua convicção era a de que Gil Vicente pôde burilar e melhorar este Auto antes de morrer, deixando-o pronto para a edição da Compilação, já editada pelos lhos.
Quanto ao folheto de 1518, que lhe tinha caído nas mãos por essa altura (década de 40), diz: “as rúbricas, muito mais completas, e a pureza do texto, que vêm esclarecer muitos pontos duvidosos, é que conferem à edição avulsa grande parte do seu valor” (Quintela, 1954).
A essa versão a que chegou Paulo Quintela juntámos ainda algumas outras (poucas) expressões do folheto de 1518 que não tinham sido consideradas e optámos por fórmulas mais arcaicas, a nosso ver mais saborosas, para algumas palavras ou expressões (ex: leixar na vez de deixar já que, segundo os especialistas, as duas se usavam na época). A didascália inicial que usamos no espectáculo é também retirada do folheto de 1518.
Quintela sugeriu para a sua versão o título de Auto de Moralidade de Embarcação do Inferno. O título do nosso espectáculo é credor dessa sugestão.

(António Augusto Barros, co-encenador, no programa de “Embarcação do Inferno”)

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