Archive for Dezembro 16th, 2014

imagens a caminho da estreia (16)

Terça-feira, Dezembro 16th, 2014

REDACTOR-CHEFE

Não podemos permitir-nos, camaradas, neste momento em que a luta de classes ganha um novo élan, baixar a guarda e deixar que os nossos espíritos sejam infiltrados pela provocação, pela dúvida, pela extravagância filosófica e pelo cosmopolitismo.

Gravando o (primeiro) discurso de Aurel:

imagens a caminho da estreia 16

mais imagens:

01   02   03   04   05   06   07   08   09   10   11   12   13   14   15

A história de Mitzi

Terça-feira, Dezembro 16th, 2014

Mitzi, a empregada do bar da União dos Escritores que o Partido achou que não estava à altura da Escola de Literatura, acabou por publicar um livro, com as histórias para crianças que a avó lhe contava. “Nunca tive jeito para inventar nada, mas tenho boa memória”, confidencia a Sérgio Penegaru quando o visita na prisão. Na cena 18, depois de oferecer o livro ao Poeta, partilha connosco uma dessas histórias.

A poucos dias da estreia do espectáculo, convidámos Ana Biscaia para ilustrar o conto. Eis o resultado, que em conjunto vos oferecemos:

Ana Biscaia / 2014

Ana Biscaia / 2014

Era uma vez, num país que não tinha nome, um rei de de baixa estatura, que também não tinha nome. E o rei, como era baixinho, não suportava que os seus súbditos fossem maiores do que ele. Então, quando o rei passeava pelas ruas, as pessoas tinham de andar nas valetas, pois assim o rei parecia maior.

Mas o problema é que o rei estava a diminuir. Todos os dias diminuía um milímetro. Não era muito, mas era aborrecido. E o povo da cidade era obrigado a cavar valetas ainda mais profundas ao longo das ruas para poder andar sem se fazer decapitar.

Até que o rei se tornou muito, muito pequeno e as valetas muito, muito fundas. Quando o rei passeava pela cidade, ele praticamente não via os seus súbditos, já completamente engolidos pela profundidade dos canais. Assim, ele era feliz. Como já não podia comparar o seu tamanho com o dos seus súbditos, já não percebia até que ponto tinha ficado minúsculo. Assim diminuto, um dia uma gota de chuva caiu por acaso exatamente sobre a cabeça do rei e esmagou-a. O rei deixou de existir, mas os habitantes da cidade continuaram a viver em valetas profundas. Porquê, não saberia dizer-te, minha criança.