Archive for Fevereiro 25th, 2010

O Teatro e o Espaço Público

Quinta-feira, Fevereiro 25th, 2010

Na próxima sexta-feira, dia 26 de Fevereiro, às 18 horas, decorre no Bar do TCSB uma conversa com o Sociólogo e Docente da FEUC  André Brito Correia, sobre a temática “O Teatro e o Espaço Público”, integrado no projecto “Privatiza filho, privatiza…”, uma organização da Associação Solar dos Kapangas, integrada na XII Semana Cultural da Universidde de Coimbra.

Formada em Abril de 2008, A Associação Solar dos Kapangas tem como fim conservar o espaço físico onde se encontra instalado o Solar dos Kapangas, promover o modo de vida comunitário iniciado em 1957, desenvolver o espírito de solidariedade entre os seus jovens membros e preservar o legado dos estudantes que o frequentaram.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios

Quinta-feira, Fevereiro 25th, 2010

“O monólogo foi olhado durante séculos com uma indisfarçada desconfiança.

O realismo e o naturalismo toleravam-no, dentro da forma teatral, como excepção: era estático, anti-teatral, inverosímil.

Nos clássicos gregos e em Shakespeare, no entanto, a presença do solilóquio é exemplar. Como pensar peças como Medeia, Rei Édipo, Hamlet, Lear, sem a reflexão solipsista dos seus protagonistas?

A escrita contemporânea, em especial a escrita da segunda metade do século XX, caracteriza-se pela “destruição da dramaturgia dialógica”. Não se trata de uma substituição nem de uma menorização da palavra, mas de um outro entendimento da escrita, menos auto-suficiente e mais consciente da sua parte na organização cénica. O discurso cénico reorganiza-se de forma rapsódica, valoriza-se a colagem, o fragmento, a pulsão poética. Beckett, Heiner Müller, Handke, Kroetz, Gregory Motton e um sem número de dramaturgos escreveram, escrevem para um acto criativo que quer estabelecer um novo protocolo com o espectador entregando-lhe uma parte maior do que a mera decifração de um enredo, entregando-lhe dúvidas, perplexidades, partes ocas, buracos negros para que complete a sua leitura de uma forma crítica, criativa.

O monólogo, o solo, para além de meras razões económicas (que também as há), autonomizou-se mesmo da obra, deixou de ser parte para passar a ser um género próprio, uma forma autónoma cada vez mais cultivada.

Um homem ou uma mulher em cena podem ser um mundo em si próprios, acompanhando a pluralização do eu que o século passado promoveu como nenhum outro, falam com as suas outras vozes, os seus outros eus; e falam com o mundo, são ícones do mundo, resistindo à incomunicação que medra nas cidades, à insatisfação, à mutilação do desejo, ao abandono dos velhos, dos marginais, das crianças, dos desempregados, dos esfomeados. Estamos todos a falar sozinhos, nas ruas, nos asilos, nas prisões, nos hospitais. Como poderia o teatro, talvez a mais política das artes, a mais atenta e dependente da polis, resistir a falar de tudo isto?”

António Augusto Barros