Archive for Dezembro 13th, 2017

Embarcação do Inferno no Porto: “discreta invenção” abre ano teatral do Teatro Nacional São João

Quarta-feira, Dezembro 13th, 2017

“Embarcação do Inferno”, a co-produção com que A Escola da Noite e o Cendrev assinalam os 500 anos do mais conhecido texto de Gil Vicente, é a primeira proposta teatral para 2018 do Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, cuja programação trimestral foi anunciada hoje em conferência de imprensa. A temporada inclui espectáculos para o público em geral e para o público escolar, uma oficina para professores e uma entrevista ao vivo com José Bernardes e terá lugar no Teatro Carlos Alberto, entre 15 e 21 de Janeiro de 2018.

Francisca Carneiro, Nuno Carinhas e António Augusto Barros

Francisca Carneiro Fernandes, Nuno Carinhas e António Augusto Barros

Na conferência de imprensa realizada esta quarta-feira no Salão Nobre do TNSJ, que contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura, Nuno Carinhas, director artístico do Teatro Nacional, referiu o “gosto especial” que tem em acolher este projecto e estas companhias, salientando a longevidade da carreira do espectáculo, que conta já com mais de 100 apresentações. Para além das sete apresentações previstas (17 a 21 de Janeiro), o programa da temporada no Porto inclui uma oficina para professores (sábado, 20 de Janeiro) e abre com uma entrevista ao respeitado vicentista José Augusto Cardoso Bernardes, conduzida por Pedro Sobrado (segunda-feira, 21h00).
António Augusto Barros, director artístico d’A Escola da Noite e co-encenador do espectáculo, manifestou a sua satisfação pelo facto de o espectáculo poder ser visto no Porto, no âmbito da digressão nacional iniciada há um ano. Lembrou alguns dos pontos de partida do processo de criação artística, como a homenagem à manifestação artística tradicional dos Bonecos de Santo Aleixo (também relacionada com a impossibilidade de qualquer uma destas companhias poder actualmente assegurar o elenco exigido por uma peça como a “Barca do Inferno”) e a “necessidade de reavaliarmos, nos dias de hoje, o legado de Gil Vicente”. Sobre este último aspecto, destacou as “fontes renascentistas” que inspiram a obra de Vicente e “a questão judaica”, que considera “insuficientemente explorada” nos estudos vicentinos.
Citando a expressão que Garcia de Resende utilizou para qualificar o trabalho de Gil Vicente, referiu-se ao espectáculo como uma “discreta invenção”, “no sentido que no século XVI esta palavra também tinha e que entretanto se perdeu: o de inteligente”. “Assim tentámos que fosse – verão, agora no Porto, se conseguimos ou não”, concluiu António Augusto Barros.

ConfImprensaTNSJ01

Um projecto amplo, a percorrer o país
Co-produzida por duas das companhias portuguesas que mais aprofundadamente têm trabalhado o património vicentino, “Embarcação do Inferno” estreou em Outubro de 2016 em Évora, no Teatro Garcia de Resende. Desde então, o espectáculo foi apresentado em mais de 100 récitas, às quais assistiram perto de 10 mil espectadores, entre os quais largas centenas de alunos e professores do ensino secundário. Para além das duas cidades das companhias – Évora e Coimbra –, o projecto passou já por outras oito localidades portuguesas, de sete distritos diferentes: Campo Benfeito (Viseu), Bragança, Aveiro, Viana do Castelo, Caldas da Rainha (Leiria), Barreiro (Setúbal), Figueira da Foz (Coimbra) e Castelo Branco. Entre o conjunto das actividades propostas pelos grupos para assinalar os 500 anos da primeira apresentação e publicação do “Auto da Barca do Inferno” (2016-2018) estão, a par dos espectáculos, oficinas para professores e o ciclo de conferências “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo”, coordenado por José Augusto Cardoso Bernardes, professor e investigador na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e consultor científico do projecto.
O espectáculo é co-encenado pelos directores artísticos das duas companhias – António Augusto Barros e José Russo – e conta com um elenco misto: Ana Meira, Jorge Baião, José Russo, Rosário Gonzaga e Rui Nuno (Cendrev) e de Igor Lebreaud, Maria João Robalo e Miguel Magalhães (A Escola da Noite). A equipa inclui ainda Ana Rosa Assunção (figurinos e bonecos), João Mendes Ribeiro e Luisa Bebiano (cenografia), António Rebocho (iluminação) e Luís Pedro Madeira (música).
Ao longo de 2018 e até Janeiro de 2020, o projecto continuará “na estrada” e regressará anualmente ao Teatro Garcia de Resende e ao Teatro da Cerca de São Bernardo, em Évora e em Coimbra, onde Cendrev e A Escola da Noite, respectivamente, são companhias residentes. No âmbito da digressão nacional do próximo ano estão já confirmadas, para além do Porto, as passagens por Leiria (ainda em Janeiro) e por Braga (em Novembro).
A Escola da Noite e o Cendrev apresentaram recentemente as suas candidaturas ao Programa de Apoios Sustentados – Quadrienais da DGArtes, incluindo nos respectivos planos de actividades a continuidade e o aprofundamento deste projecto emblemático no percurso das duas estruturas.

TEATRO
“Embarcação do Inferno”, de Gil Vicente
co-produção A Escola da Noite / Cendrev

Porto, Teatro Carlos Alberto

17 a 21 de Janeiro de 2018
quarta a sexta-feira, 21h00
sábado, 19h00
domingo, 16h99
M/12 > 60’ > 10,00 €
sessões para o público escolar:
18 e 19 de Janeiro de 2018
quinta e sexta-feira, 15h00

Conferência/Entrevista com José Bernardes
15 de Janeiro de 2018
segunda-feira, 21h00
entrada gratuita

Oficina para professores
20 de Janeiro de 2018
11h00 – 13h00 / 14h30 – 17h30

informações e reservas:
223 401 951 / relacoespublicas@tnsj.pt

“Las Manos”, de Miguel Hernández

Quarta-feira, Dezembro 13th, 2017

Miguel_Hernandez05

Dos especies de manos se enfrentan en la vida,
brotan del corazón, irrumpen por los brazos,
saltan, y desembocan sobre la luz herida
a golpes, a zarpazos.

La mano es la herramienta del alma, su mensaje,
y el cuerpo tiene en ella su rama combatiente.
Alzad, moved las manos en un gran oleaje,
hombres de mi simiente.

Ante la aurora veo surgir las manos puras
de los trabajadores terrestres y marinos,
como una primavera de alegres dentaduras,
de dedos matutinos.

Endurecidamente pobladas de sudores,
retumbantes las venas desde las uñas rotas,
constelan los espacios de andamios y clamores,
relámpagos y gotas.

Conducen herrerías, azadas y telares,
muerden metales, montes, raptan hachas, encinas,
y construyen, si quieren, hasta en los mismos mares
fábricas, pueblos, minas.

Estas sonoras manos oscuras y lucientes
las reviste una piel de invencible corteza,
y son inagotables y generosas fuentes
de vida y de riqueza.

Como si con los astros el polvo peleara,
como si los planetas lucharan con gusanos,
la especie de las manos trabajadora y clara
lucha con otras manos.

Feroces y reunidas en un bando sangriento
avanzan al hundirse los cielos vespertinos
unas manos de hueso lívido y avariento,
paisaje de asesinos.

No han sonado: no cantan. Sus dedos vagan roncos,
mudamente aletean, se ciernen, se propagan.
Ni tejieron la pana, ni mecieron los troncos,
y blandas de ocio vagan.

Empuñan crucifijos y acaparan tesoros
que a nadie corresponden sino a quien los labora,
y sus mudos crepúsculos absorben los sonoros
caudales de la aurora.

Orgullo de puñales, arma de bombardeos
con un cáliz, un crimen y un muerto en cada uña:
ejecutoras pálidas de los negros deseos
que la avaricia empuña.

¿Quién lavará estas manos fangosas que se extienden
al agua y la deshonran, enrojecen y estragan?
Nadie lavará manos que en el puñal se encienden
y en el amor se apagan.

Las laboriosas manos de los trabajadores
caerán sobre vosotras con dientes y cuchillas.
Y las verán cortadas tantos explotadores
en sus mismas rodillas.

Miguel Hernandez

Entre 10 e 14 de Dezembro de 2017, A Escola da Noite publica um poema de Miguel Hernández por dia, antecipando a chegada a Coimbra do espectáculo “Un encuentro con Miguel Hernández”, do Teatro Guirigai.

Convidamos as/os espectadoras/es a fazerem o mesmo nas redes sociais, juntando-se à homenagem que o espectáculo presta ao grande escritor espanhol, no ano em que se assinalam os 75 anos da sua morte. Podem usar a hashtag #UnEncuentroConMiguelHernandezEmCoimbra.

Faça-nos companhia!

TEATRO
Un Encuentro con Miguel Hernández
Teatro Guirigai (Espanha)
14 de Dezembro de 2017
Quinta-feira, 21h30
M/14 > 70′
Espectáculo falado em Castelhano
evento FB