Archive for Março, 2013

Joana Providência a propósito de projecto H: “de onde vêm aquelas pessoas?”

Sábado, Março 30th, 2013

Joana Providência (foto: Nelson Garrido/Público)

De onde vêm e para onde vão aquelas pessoas? O que lhes terá acontecido? O que recordam? Terão alguma vez amado, sentir-se-ão amadas?
Este projecto desenvolve-se em torno do universo do pintor Edward Hopper cujas obras, habitadas por uma mistura de realismo e estranheza, parecem captar um antes e um depois sem que se perceba exactamente o quê. Há uma suspensão instantânea, quase fotográfica, do ritmo quotidiano que assim surge rodeado de segredos e nos cria uma sensação de incompletude.
Em Hopper há um “voyeurismo” frio, um distanciamento, uma quase ausência de voluptuosidade. Motivou-nos este sentimento de interioridade e de silêncio, onde a luz cria espaço, e o espaço é percorrido pela luz, criando um território mental de contemplação. É neste contexto que procurámos desenvolver os materiais. O trabalho de interpretação assentou sobretudo num corpo físico, na construção de partituras de movimento, e no desenvolvimento de ideias de composição coreográfica. A palavra surge só pontualmente e acontece através de duas pequenas histórias retiradas do “Caderno Vermelho” de Paul Auster.

Joana Providência, Fevereiro 2013

 

O caderno vermelho

Sexta-feira, Março 29th, 2013

“O Caderno Vermelho”, de Paul Auster, é a segunda fonte de inspiração para o “projecto H” do TEUC e de Joana Providência.

Não é fácil encontrá-lo à venda, mas tem aqui a possibilidade de comprar a versão em audio.

O espectáculo estreia na quinta e os bilhetes já estão disponíveis. Reserve já pelos contactos habituais do TCSB (239 718 238 / 966 302 488 / geral@aescoladanoite.pt)

Abril no TCSB: TEUC e GEFAC estreiam novas produções

Quinta-feira, Março 28th, 2013

O teatro universitário está em destaque na programação de Abril do Teatro da Cerca de São Bernardo: TEUC e GEFAC estreiam as suas novas produções na sala d’A Escola da Noite. No primeiro caso, a ocasião assinala ainda o regresso da coreógrafa Joana Providência ao TCSB, três anos depois da sua residência artística neste espaço.

Como habitualmente, o primeiro sábado do mês é dedicado às crianças, com mais duas sessões de “Flores de livro”.

"projecto H" (foto de ensaio, de Eduardo Pinto)

“projecto H” é o título do espectáculo que o TEUC – Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra estreia na Cerca de São Bernardo. No ano em que assinala o seu 75º aniversário, o mais antigo grupo de teatro universitário da Europa (e ao qual está intimamente ligada a história d’A Escola da Noite) volta ao TCSB, desta vez com uma proposta de teatro-dança, em co-criação com a coreógrafa Joana Providência. O projecto é inspirado nas obras do pintor norte-americano Edward Hopper e nas palavras de Paul Auster em “O Caderno Vermelho”. Joana Providência salienta a “mistura de realismo e estranheza” dos quadros de Hopper: “há uma suspensão instantânea, quase fotográfica, do ritmo quotidiano que assim surge rodeado de segredos e nos cria uma sensação de incompletude”. Há na obra do pintor americano “um voyeurismo frio, um distanciamento, uma quase ausência de voluptuosidade. Motivou-nos este sentimento de interioridade e de silêncio, onde a luz cria espaço, e o espaço é percorrido pela luz, criando um território mental de contemplação. É neste contexto que procurámos desenvolver os materiais”, acrescenta a coreógrafa.
O espectáculo estreia a 4 de Abril e fica em cena até domingo, sempre às 21h30. No último dia, há também uma sessão à tarde (16h00).

Manhã, pelo GEFAC
Na semana seguinte, a 11 de Abril, é a vez de o GEFAC estrear a sua nova produção, “Manhã”. Integrada na programação da Semana Cultural da Universidade de Coimbra, trata-se de uma criação colectiva do grupo universitário e tem como fio condutor o lugar da mulher na cultura tradicional portuguesa. “Como quem, cantando sobre a roda, faz correr a vida em vez de água, há mulheres que marcam com os seus pés o próprio passo do tempo, fiando com paciência o leito em que correm a tradição e a memória, e que nos há-de levar ao que somos”, escreve o GEFAC no texto de apresentação.
“Santas, mães, adúlteras, virgens, perdidas; o corpo da fecundidade e o vulto enlutado da morte; a sabedoria serena, o desejo em que ardemos”, muitas são as mulheres “que se escondem sob as saias da memória” e que sobem ao palco nesta “Manhã”.

Flores de Livro
No dia 6 de Abril, primeiro sábado do mês, continua a iniciativa “Flores de Livro”. Cláudia Sousa faz a sua visita mensal às crianças de Coimbra para partilhar com elas mais algumas histórias, contadas no bar do teatro. As sessões têm lugar às 10 e às 11h30 da manhã e destinam-se a crianças entre os 4 e os 10 anos.

ABRIL NO TCSB
PROGRAMAÇÃO

TEATRO/DANÇA
projecto H
TEUC

4 a 7 de Abril
quinta a sábado, 21h30 / domingo, 16h00 e 21h30
co-criação TEUC e Joana Providência direcção artística Joana Providência assistência coreográfica Leonor Barata elenco Helena Galveias, Helena Pinela, Joana Salgado, Miguel Matos, Rafaela Bidarra, Rodolpho Amaral e Ruy de Liceia direcção técnica Alexandre Mestre desenho de Luz Alexandre Mestre operação de som Xénon Cruz música original Alexandre Castro, Carlos Reis, Francisco Caseiro, Pedro Enes, João Machado, Liliana Alves, Mauro Cruz e Nuno Coelho cenografia Rafaela Bidarra fotografia Eduardo Pinto vídeo Ana Félix
M/12 > 60′ > 3 a 6 Euros

LEITURA DE CONTOS / EXPOSIÇÃO-VENDA DE LIVROS PARA A INFÂNCIA
Flores de Livro
por Cláudia Sousa
sábado 10h00 e 11h30
M/4 > 60′ > 3 Euros; 5 Euros (criança + adulto)

DANÇA
Manhã
GEFAC
11 a 13 de Abril
quinta a sábado, 21h30concepção artística GEFAC (criação colectiva) operação de vídeo Henrique Patrício imagens GEFAC, MemoriaMedia, Henrique Patrício desenho de Luz Wilma Moutinho
M/12 > 60′ > 3 a 6 Euros

hoje no TCSB

Quarta-feira, Março 27th, 2013

"projecto H" (foto de ensaio, de Eduardo Pinto)

Em dia de aniversário e no Dia Mundial do Teatro, o TEUC e Joana Providência dão-nos e dão-vos uma prenda: ensaio aberto de “projecto H”, às 22h00, com entrada livre.

Venham festejar connosco!

Dia Mundial do Teatro

Quarta-feira, Março 27th, 2013

Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2013

DARIO FO

Há uns anos atrás, o PODER, no máximo da sua intolerância, escorraçou os artistas dos seus países. Hoje em dia, os atores e as companhias sofrem com a dificuldade de encontrar espaços, teatros e público; tudo por conta da crise.
Os governantes já não se preocupam em controlar quem os cita com ironia e sarcasmo, uma vez que os atores não têm espaços nem público que os veja.
Contrariamente ao que acontece hoje, no período da Renascença em Itália, os governantes tiveram enormes dificuldades em controlar os atores e comediantes que conseguiam mobilizar a sociedade para assistirem aos seus espetáculos.
É sabido que o grande êxodo dos comediantes aconteceu no século da Contra Reforma, quando foi decretado o desmantelamento de todos os espaços teatrais, especialmente em Roma, por serem acusados de desrespeito à cidade santa. O Papa Inocêncio XII, pressionado pela ala mais conservadora da burguesia e dos altos representantes do clero, ordenou em 1697 o encerramento do Teatro de Tordinona por se considerar que, neste local, diziam os mais moralistas, se faziam espetáculos considerados obscenos. Na época da Contra-Reforma, o Cardeal Charles Borromée, no norte de Itália, divulgou a consagração da redenção das “crianças milanesas” estabelecendo uma clara distinção dos nascidos na arte, como expressão máxima de educação espiritual, e o teatro, manifestação de profanação e leviandade. Numa carta endereçada aos seus colaboradores, que cito de memória, o Cardeal Charles Borromée exprime-se mais ou menos nos seguintes termos: “Nós que estamos empenhados em exterminar a planta maligna, tentaremos, lançando fogo aos textos e discursos infames, fazer com que estes se apaguem da memória dos homens, do mesmo modo que perseguiremos todos aqueles que teimem em divulgar os textos impressos. Sabemos que, enquanto nós dormirmos, o diabo estará atento, com atenção redobrada. Então, o que será mais premente, o que os olhos vêem ou o que se pode ler nos livros? O que será mais devastador para as mentes dos adolescentes e crianças, a palavra proferida com gestos apropriados, ou a palavra morta, impressa nos livros? É urgente expulsar das nossas cidades as gentes do teatro, tal como já fizemos com os espíritos indesejáveis”.
Logo, a única solução para a crise reside na esperança de uma grande caça às bruxas que estão contra nós, e sobretudo contra os jovens que querem aprender a arte do Teatro: só assim nascerá uma nova geração de comediantes que aproveitará desta nossa experiência e dela tirará benefícios inimagináveis na procura de novas formas de representação.

27 de Março de 2013

Tradução: Margarida Saraiva
Escola Superior de Teatro e Cinema