Archive for Abril 20th, 2010

sobre Rubem Fonseca

Terça-feira, Abril 20th, 2010

Contista, romancista, ensaísta, roteirista e “cineasta frustrado”,Rubem Fonseca precisou publicar apenas dois ou três livros para ser consagrado como um dos originais prosadores brasileiros contemporâneos. Com suas narrativas velozes e sofisticadamente cosmopolitas, cheias de violência, erotismo, irreverência e construídas em estilo contido, elíptico, cinematográfico, reinventou entre nós uma literatura noir ao mesmo tempo clássica e pop, brutalista e sutil — a forma perfeita para quem escreve sobre “pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado”.

Carioca desde os oito anos, Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, em 11 de maio de 1925. Leitor precoce porém atípico, não descobriu a literatura (ou apenas o prazer de ler) no Sítio do Pica-Pau Amarelo, como é ou era de praxe entre nós, mas devorando autores de romances de aventura e policiais de variada categoria: de Rafael Sabatini a Edgar Allan Poe, passando por Emilio Salgari, Michel Zevaco, Ponson du Terrail, Karl May, Julio Verne e Edgard Wallace. Era ainda adolescente quando se aproximou dos primeiros clássicos (Homero, Virgílio, Dante, Shakespeare, Cervantes) e dos primeiros modernos (Dostoiévski, Maupassant, Proust). Nunca deixou de ser um leitor voraz e ecumênico, sobretudo da literatura americana, sua mais visível influência.

Por pouco não fez de tudo na vida. Foi office boy, escriturário, nadador, ajudante de mágico, revisor de jornal, comissário de polícia — até que se formou em direito, virou professor da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e, por fim, executivo da Light do Rio de Janeiro.  Escritor publicamente exposto, só no início dos anos 1960, quando as revistas O Cruzeiro e Senhor publicaram dois contos de sua autoria.

Em 1963, a primeira coletânea de contos, Os prisioneiros, foi imediatamente reconhecida pela crítica como a obra mais criativa da literatura brasileira em muitos anos; seguida, dois anos depois, de outra, A coleira do cão, a prova definitiva de que a ficção urbana encontrara seu mais audacioso e incisivo cronista. Com a terceira coletânea, Lúcia McCartney, tornou- -se um best-seller e ganhou o maior prêmio para narrativas curtas do país.

Já era considerado o maior contista brasileiro quando, em 1973, publicou seu primeiro romance, O caso Morel, um dos mais vendidos daquele ano, depois traduzido para o francês e acolhido com entusiasmo pela crítica europeia. Sua carreira internacional estava apenas começando. Em 2003, ganhou o Prêmio Juan Rulfo e o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Com várias de suas histórias adaptadas ao cinema, ao teatro e à televisão, Rubem Fonseca já publicou 11 coletâneas de contos, sete romances e três novelas.

“O autor” in Rubem Fonseca, O Seminarista, Rio de Janeiro, Agir Editora, 2009

Quinta, 22: nova estreia da trilogia Rubem Fonseca

Terça-feira, Abril 20th, 2010

fotografias de Augusto Baptista

Estreia esta quinta-feira, em Coimbra, o segundo espectáculo da “trilogia 1.José 2.Rubem 3.Fonseca” que A Escola da Noite e a Companhia de Teatro de Braga estão a apresentar ao público no Teatro da Cerca de São Bernardo.

Prossegue assim a exploração do universo literário do autor brasileiro, com a adaptação cénica de mais de duas dezenas dos seus contos, numa mostra propositadamente abrangente da sua vastíssima obra. Desta feita, em 2. Rubem, as companhias propõem a apresentação de mais cinco narrativas, com os sugestivos títulos “O Buraco na Parede”, “Caderninho de Nomes”, “Eu seria o homem mais feliz do mundo se pudesse passar uma noite com você”, “Copromancia” e “Soma zero”.

Ao longo dos três espectáculos, esta co-produção entre as companhias de Coimbra e Braga destaca alguns dos mais distintivos traços da escrita de Rubem Fonseca – a violência latente, o desejo, a solidão e a dificuldade de comunicação com o outro que tantas vezes marcam a vida nas grandes cidades –, valorizando a sua mestria enquanto contador de histórias. Uma marca, aliás, que a transposição para os palcos concebida e dirigida por António Augusto Barros não pretende apagar. As soluções encontradas assentam na simplicidade do dispositivo cénico (comum aos três momentos da trilogia e enriquecido com o desenho de luz de Jorge Ribeiro) e apostam tudo no exigente e essencial trabalho dos 11 actores que interpretam as diversas personagens.

A diversidade do elenco é, aliás, uma das principais mais-valias desta nova co-produção entre A Escola da Noite e a CTB, com a qual o grupo de Coimbra atinge o 50.º espectáculo do seu percurso, iniciado em 1992.

2. Rubem – o segundo momento da trilogia – está em cena em três sessões únicas, nos dias 22, 23 e 24 de Abril (quinta, sexta e sábado), sempre às 21h30, no Teatro da Cerca de S. Bernardo. Para todos aqueles que puderam assistir ao primeiro espectáculo e não queiram perder o terceiro (com estreia na próxima semana), as companhias garantem condições especiais de acesso.