Archive for Maio 16th, 2009

a minha escolha: Natércia Coimbra

Sábado, Maio 16th, 2009

 

"A Noite", pelo Teatro o bando (foto de Margarida Dias)

"A Noite", pelo Teatro o bando (foto de Margarida Dias)

Em cada trimestre, um(a) convidado(a) d’A Escola da Noite partilha com os espectadores a(s) sua(s) escolha(s) da programação apresentada. Natércia Coimbra, directora do Centro de Documentação 25 de Abril, fala sobre a Residência Artística REN com o Teatro o bando:

 

A programação d’A Escola da Noite para os próximos meses é, como habitualmente, coerente, rica na oferta que nos propõe e, o que precisava de dizer-vos, era: percam dela o menos possível!

Mas, e ainda bem, mesmo perante o que consideramos bom há sempre aquilo que preferimos. Preferir é gostar mais disto sem desgostar de tudo o que sobra. É distinguir um momento sem esquecer que todos os outros vão também acontecer.

E assim sendo, gosto que vá acontecer a residência do grupo de teatro o bando, um grupo cujo percurso tenho acompanhado e que já me proporcionou momentos de rara beleza, puro prazer, inesquecíveis espectáculos improváveis, que só a sua arte, talento e sensibilidade conseguiriam criar.

Convido-vos para o espectáculo “A Noite”, nos dias 23 e 24 de Maio, que nos traz a poesia de Al Berto. Convite, confesso, motivado não só porque Al Berto é um dos meus poetas preferidos mas também pela curiosidade que o espectáculo me desperta.

Estou curiosa, sim, para ver como se consegue passar da poesia lida ao espectáculo de teatro, a que jovens actores vão dar corpo. Curiosa, também, para ver como a dramaturgia de João Brites parece ter conseguido ultrapassar a dificuldade de partir de textos literários, sem qualquer estrutura narrativa, para afinal nos contar uma história. Curiosa ainda de apreciar o intenso trabalho que deve ter havido entre actores e encenador, entre actores e actor, para que o espectáculo não deslize para um registo de recital de poesia e para que a poesia não irrompa e ocupe o palco, antes surgindo vigorosamente, mas só de quando em quando, apenas para sublinhar a história que afinal continha, ou que afinal os actores e o dramaturgo descobriram nela.

 

Natércia Coimbra

Abril 2009

A Dança como Fábula*

Sábado, Maio 16th, 2009
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Teatro da Cerca de São Bernardo, até 30 de Maio

Bem-vindo à segunda estação: ao espaço onde o movimento perde a sua funcionalidade. São nove painéis para visitar, num convite à descoberta do lugar do corpo como um sonho de olhos abertos. Pensemos no princípio de que o corpo é capaz de abandonar o chão que conhece e que assim pode subir acima da experiência quotidiana. O movimento transforma-se desse modo em ficção e em dança, pelo novo contexto em que se apresenta e pelo conhecimento e domínio que revela sobre o corpo. É isto que iremos encontrar na estação da Dança como Fábula.

Os nove painéis que se seguem mostram a dança que acontece à vista dos nossos olhos e também a que transpira por dentro. Uma dança que propõe a experiência de sair de si e que nos escapa, levando consigo a emoção da energia que o corpo descreve no espaço e no tempo de uma vida.

 

Na História da Dança do século XX, existe uma visão, defendida por Rudolf von Laban (1879-1958), que afirma ser nos enigmas do corpo, nas sombras da memória e na sua vivacidade que se aloja toda a matéria da dança.

A dança deixa de ser apenas um conjunto de passos complexos, voltas e saltos acrobáticos, para se transformar no jogo que o corpo faz com o espaço, com o tempo, com o peso e com a fluência da sua energia.

Laban é o mentor e a fonte de inspiração para esta carta.

Para Laban, a dança tem origem no movimento dos homens e da natureza, estendendo-se também à arte teatral, à celebração comunitária e à descoberta pessoal. Através da análise do movimento, desvendou a relação indissociável que existe entre o corpo, a mente e a sensibilidade.

 

Laban construiu danças com bailarinos, mas não só, contou também com leigos que partiam dos seus afazeres e dos seus hábitos para dançar em grandes grupos. Queria, com isso, dignificar o valor estético do movimento humano, dar-lhe um lugar na arte. Queria que todos dançassem, mas também que compreendessem a dança. Laban relacionou a energia própria de cada pessoa com a qualidade do seu movimento e a sua forma de ser, sempre identificada com a sua idade, cultura e com a verdade da sua condição.

Laban desenvolveu a teoria das tensões espaciais, a partir do relacionamento entre o corpo e o espaço. Na nossa necessidade de orientação permanente, existem pontos de referência que nos conduzem e que produzem formas e volumes imaginários. Estas formas traduzem os nossos impulsos mais profundos. Muitas vezes, sem saber, cada pessoa escreve, no espaço e no tempo, a sua dança singular.

A  Laban interessava-lhe criar princípios fundamentais que oferecessem à dança uma dimensão universal, enraizada no movimento humano.

 

Os nove painéis que se seguem apresentam, em jogo simétrico com os nove painéis dedicados ao corpo, a passagem do movimento até ao campo da dança.

Em cada um destes nove painéis, poderemos encontrar no movimento e na energia do corpo a forma que ele desenha no espaço. Poderemos assim compreender e dançar a ideia de que, através das metamorfoses do corpo, se constroem acrobacias para a alma.

 

 

 

* A Escola da Noite publica algumas das fotografias que integram a exposição “uma carta coreográfica“, bem como os segredos e as fábulas que compõem cada um dos seus 18 painéis. Este é o texto de apresentação da segunda estação: “A Dança como Fábula”, cujos painéis serão publicados a partir amanhã. A exposição pode ser visitada no TCSB, até 30 de Maio, de segunda a sexta (10h00-13h00 e 14h00-19h00) e aos sábados (14h30-19h00). Nos dias de espectáculo, mantém-se aberta até às 24h00.